Em geral, só os vencedores do Prêmio Nobel da Paz costumam ser conhecidos antes de receber a distinção. Na área econômica, então, costumam ser acadêmicos de quem poucos ouviram falar.
Neste ano, entre os escolhidos para receber o prêmio, há um muito famoso antes disso: Ben Bernanke, que foi homenageado com Douglas Diamond, professor da Universidade de Chicago, e Philip Dybvig, da Washington University em St. Louis. Bernanke virou celebridade econômica por ter aplicado seus conhecimentos acadêmicos no leme da maior crise financeira do século 21 até agora, o estouro da bolha imobiliária em 2008.
Foi a reputação construída por seus estudos sobre a Grande Depressão, maior crise do século 20, que levou Bernanke à presidência do Federal Reserve (Fed, o banco-central dos Estados Unidos) em 2006, indicado pelo então presidente George W. Bush. Embora já houvesse sinais de inquietação na época, nenhum dos dois imaginava o quanto os estudos de Bernanke seriam testados na prática.
Guardadíssimas as proporções - Bernanke era professor em Princeton e um teórico respeitado antes de assumir o Fed, não um executivo do mercado - seria como se Henrique Meirelles, que presidia o Banco Central no Brasil em 2008, recebesse o Nobel. A coluna não encontrou registros de outro ex-presidente de banco central distinguido na história do prêmio que, é bom lembrar, foi instituído em 1968 pelo Banco Central da Suécia, não pela Fundação Nobel. Isso não significa que não tenha o mesmo peso: segundo a Academia Real das Ciências da Suécia, o processo de indicação, os critérios de escolha e a apresentação da decisão são similares aos do Nobel.
É consenso entre analistas que a atuação de Bernanke evitou que a chamada Grande Recessão deste século atingisse o mesmo grau de destruição econômica deflagrado pela famosa quebra da bolsa de Nova York em 1929. Sua linha de ação foi coordenar ações entres bancos centrais de vários países para injetar liquidez (capacidade de transformar ativos financeiros em dinheiro circulante) e frear a quebra de bancos em cascata que marcou a época.
Em livro publicado só em 2015, A Coragem para Agir, Bernanke relatou que a economia mundial chegou à beira do abismo entre 2007 e 2008. Parte da receita do ex-presidente do Fed foi reeditada no início da pandemia: uma série de estímulos para não deixar a economia travar acabou gerando inflação global, seguida por uma onda de alta de juros em vários países que deve desaguar na segunda estagflação global (atividade econômica parada ou em queda com inflação elevada) da história recente.