Uma fantástica fábrica que a coluna visitou há sete anos virou a maior exportadora de doces do Brasil. A Docile, de Lajeado, investiu em ampliação, qualificação e certificação para levar seus 117 tipos de produtos para países do Hemisfério Norte.
A empresa que começou a exportar marshmallow para os Estados Unidos - um desafio, porque o doce é tão americano quanto o 4 de Julho - agora tem o país como principal cliente, e o Canadá como segundo maior destino.
— Foi um trabalho de bastante tempo, somos a maior exportadora entre todos os fabricantes de candies do Brasil de 2021 para cá — reforça Alexandre Heineck, diretor da Docile e um dos três sócios, com os irmãos Fernando e Ricardo.
A indústria existe com esse nome há 31 anos, mas a família está no mundo dos doces há 86, idade do pai do trio, Nestor, que segundo Alexandre é o mais antigo doceiro do Brasil em atividade. A exportação sempre fez parte do negócio, relata, e hoje chega a 35% dos negócios que deve movimentar R$ 570 milhões neste ano.
A primeira venda ao Exterior, relata Alexandre, foi à Venezuela em 1998. Ao longo desse tempo, a empresa foi desbravando outros mercados, principalmente na América Latina e no mundo árabe, e hoje já envia produtos para cerca de 80 países.
— Para cada um, temos diferenças de sabor, textura, cor, formato e, é claro, embalagem. Cada um tem uma regulação, e além disso, preferências específicas que precisamos atender. Às vezes, fazemos laboratório no mercado doméstico, mas às vezes um produto destinado à exportação emplaca por aqui. Foi o caso das "minhocas" ácidas, feitas para o mercado sul-africano, que adequamos, vendemos no Brasil e foi um sucesso, há 15 anos. Somos reconhecidos por sermos inovadores em formatos e sabores.
O passaporte que levou os doces feitos em Lajeado para o mundo foi a FSSC 22000, uma certificação de segurança de alimentos obtida há cinco anos.
— É uma certificação conhecida globalmente, nos permitiu acessar mercados mais exigentes, no Hemisfério Norte. Quem obtém mostra que tem padrão, rigor e governança em relação a segurança alimentar, que é essencial para conquistar clientes que não se dispõem a vir para o Brasil para fazer auditoria. Fazemos adequação de rotulagem em 11 línguas — detalha Alexandre.
Isso permitiu à Docile seguir atendendo países sul-americanos, mas aumentar as vendas para a América do Norte e Europa, graças à capacidade de se adequar a demandas específicas.
— Hoje, os EUA são o principal cliente. Eles só consumiam marshmallow branco, oferecemos outras cores, formatos e sabores diferentes. O mais recente é um recheado com gelatina. Isso nos deu abertura em clientes tradicionais, estamos com a marca do importador em todas as grandes cadeias de varejo, como Walmart, Target, Dollar. Também trabalhamos muito a sazonalidade, com balas em formato de coelho para a Páscoa, coração para o Valentine' Day, árvores para o Natal e agora estamos com especiais para o Halloween.
O marshmallow que vai para os EUA sai da unidade de Lajeado - a Docile tem outra fábrica em Vitória de Santo Antão (PE) -, que passa por ampliação de 25% de sua capacidade de produção. Conforme Alexandre, para sustentar esse crescimento, a Docile investiu R$ 50 milhões no ano passado e tem previstos mais R$ 100 milhões nos próximos dois anos.
— Não quero pecar por excesso, mas nossa fábrica é uma das melhores do mundo. Conseguimos trazer equipamentos e tecnologia que permitem customizar produtos para cada mercado e temos gente capaz, preparada para negociar.
Hoje, saem das duas fábricas 4 mil toneladas de doces ao mês, ou cerca de 250 milhões de unidades. Há seis meses, a Docile buscou em Rayssa Leal, a "fadinha do skate", uma forma de tornar a marca mais conhecida e respeitada no Brasil. Desenvolveu para a garota uma linha com cores e aromas naturais. Alexandre avalia que crescer dentro do país é "um bom desafio".