Depois de muito atraso, as projeções do Boletim Focus, feitas por cerca de cem instituições financeiras e consultorias econômicas consultadas pelo Banco Central (BC) para mostrar a mediana (as que aparecem com mais frequência) das projeções econômicas para o país passaram do limite do crescimento acumulado no primeiro semestre (2,5%) como estimativa de crescimento do PIB neste ano.
Nesta segunda-feira (17), o Focus prevê alta de 2,7% no PIB de 2022, apenas dois décimos acima do acumulado até julho. Isso significa que a maioria dos analistas projeta avanço no PIB de menos de 0,2% - o cálculo é acumulado, não somado - em todo o segundo semestre. E outro dado divulgado nesta segunda-feira (17) ajuda a explicar "o mistério do PIB": o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) em agosto teve forte queda de 1,13%.
Conforme os dados do BC, esse foi a maior redução mensal do nível de atividade desde março de 2021, quando havia ocorrido tombo de 3,6%. Computado esse resultado negativo, de janeiro a agosto, o acumulado do IBC-Br quase empata com o crescimento projetado para todo o ano no Focus: 2,76% (sem ajuste sazonal, que descarta variações típicas de determinado período do ano).
A forte queda do IBC-Br é atribuída por analistas ao impacto da alta do juro básico, que por definição costuma tardar de seis a nove meses para "esfriar" a economia, e ao esgotamento do efeito benéfico de medidas de estímulo ao consumo que se refletiram no PIB do segundo trimestre, como a antecipação do 13º salário e a liberação de FGTS.
O IBC-Br foi apelidado informalmente de "prévia do PIB", mas os dois indicadores não são idênticos. Com frequência, há diferenças entre os dois resultados. O indicador de atividade do BC usa menor quantidade de dados para acompanhar o ritmo da economia em base mensal, já que o indicador de geração de riqueza nacional só é informado a cada três meses pelo IBGE, sempre com bastante atraso.