Quando José Ernesto Marino Neto foi contratado, em 2018, para apoiar o Grupo Habitasul no encaminhamento de uma solução para o Laje de Pedra, propôs um plano de investimento na requalificação do hotel. Como, segundo relata, não havia recursos financeiros nem humanos para desenvolver a estratégia, a saída foi buscar um comprador.
E encontrou José Paim, que então disse que se candidataria à compra desde que Marino Neto se tornasse sócio, por seu conhecimento do segmento de hospedagem: 34 anos em que ajudou a implantar hotéis que somam investimento de R$ 6 bilhões em 22 Estados.
— Disse que eu quebraria todos os meus porquinhos, mas não sabia se conseguiria juntar muito, ele me disse para colocar o que pudesse. Minha mulher tinha escondido tão bem as moedas que entrei com 30%, Paim com outros 30%, e os demais sócios com 40% — relata Marino Neto à coluna.
Neste final de semana, os sócios locais se unem ao comando nacional do Kempinski - que se associou ao projeto também por uma "coincidência", que a coluna vai relatar depois - para recepcionar em Canela diretores de hotéis ícones da rede de hotéis de luxo mais antiga do mundo: os de Berlim (o tradicional Adlon), Munique, Saint Moritz (estação de esqui na Suíça), Havana e Cancún, o mais recente.
Também vão recepcionar um grupo de operadores nacionais desse pequeno mas endinheirado mercado. A coluna quis saber se já seria um "test drive" das novas instalações, e Marino Neto desabafou:
— Queríamos abrir em 2025, agora seremos obrigados a esperar até 2026 por excesso de burocracia na cidade, que tem processo de licenciamento muito lento.
Os convidados ficarão hospedados em outros hotéis da cidade. Vai demorar mais, mas o Kempinski Laje de Pedra não será apenas o primeiro da grife no Brasil em 125 anos de história, mas em toda a América do Sul. Só não é a estreia na América Latina porque há cinco anos abriu um em Havana, em Cuba.
— É uma tradição da marca descobrir novos destinos e fugir do óbvio. Fizemos isso na China, em Cuba, e agora no Brasil. As pessoas esperavam que o primeiro Kempinski do país seria em São Paulo, no Rio de Janeiro, ou no Nordeste, mas ficamos muito contentes em abrir não só o primeiro Kempinski do Brasil, como da América do Sul, em Canela — destaca Marcela Camargo, diretora comercial nacional da rede.
Fundado na Alemanha por Berthold Kempinski, e atualmente com sede em Genebra e cerca de 80 hotéis em 34 países, o grupo sempre esteve no radar de Marino Neto. Em 2020, quando navegava no LinkedIn, rede social focada no mercado de profissionais, viu que um conhecido se desligava do grupo. Fez contato, e a conversa evoluiu para a parceria, assinada em outubro passado.
— Aprendi que o sucesso de um hotel nasce na concepção, se houver capacidade de manter a integridade dessa visão. A que tivemos foi a de fazer renascer esse grande ativo, colocando-o no mesmo nível da natureza em que está envolvido, como diz o meu sócio, 'que dinheiro nenhum consegue fazer', e desenhamos o projeto para esse mercado de alto luxo — diz Marino Neto.
Outra coincidência ocorreu na primeira visita de Marcela ao Laje, ainda antes de o negócio ser fechado. A gerente relata que ao passar perto da piscina térmica recuperou uma memória de infância, pois já havia estado lá:
— Era inverno, e meus pais não haviam colocado maiô na mala. Como eu e minha irmã queríamos ir à piscina térmica, fomos comprar na butique que havia ao lado.
Para Marino Neto, esse acúmulo de coincidências tem um "dedo divino". Enquanto espera a abertura para hóspedes, o Kempinski Laje de Pedra abriga o restaurante 1835, que tem recebido 10 mil pessoas por mês, e galerias de arte com exibições renovadas. Atualmente, uma coleção de fotos mostra atrativos do Rio Grande do Sul, avaliada em cerca de R$ 6,5 milhões. O empreendimento também montou uma orquestra filarmônica, formada por 38 músicos gaúchos, que se apresentará neste final de semana de exposição de Canela ao mercado hoteleiro de luxo. No próximo mês, um novo empreendimento será inaugurado no complexo, o Café do Laje, comandado pela chef canelense Amanda Selbach.
— Canela é um lugar muito autêntico, rico em história e cultura, com raízes europeias, assim como a nossa marca, o que também cria uma ligação muito forte — reforça Marcela.
— Para a rede Kempinski, cada hotel deve ter sua própria identidade, refletir o ambiente em que está. É isso que queremos fazer. Não queremos fazer um hotel suíço em Canela, queremos fazer um hotel com serviço suíço, mas com cultura, gastronomia e história daqui — complementa Marino Neto.
* Colaborou Mathias Boni