Depois de muita pressão, na manhã desta segunda-feira (20), foi confirmada a renúncia do presidente da Petrobras, José Mauro Coelho. O comunicado foi feito em nota inusualmente seca da estatal: "Petrobras informa que o senhor José Mauro Coelho pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um presidente interino será examinada pelo conselho de administração da Petrobras a partir de agora. Fatos considerados relevantes serão prontamente comunicados ao mercado".
Como o comunicado foi feito justo na abertura do mercado, as ações da Petrobras despencaram ao ponto de exigir duas paralisações de negociação sucessivas. As ordinárias chegaram a tombar 7,25%, e as preferenciais, 6,09%, mas no início da tarde, surpresa: voltaram a subir.
Como sempre que não dá conta de explicar algo, a coluna foi buscar ajuda dos analistas. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, compartilhou também uma certa perplexidade:
–Não vi o motivo dessa alta, mas creio que é porque os investidores estão animados com a possibilidade de privatização da Petrobras. Não vejo outra justificativa.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, tem outra avaliação:
– Desde o pico do dia 23, a ação da Petrobras está caindo 14%. Já caiu muito e, no mais, o mercado entende que será preservado o PPI (Política de Paridade de Importações, leia mais abaixo).
Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim (BV), há uma terceira causa:
– A denúncia retira a pressão de cima da empresa.
Depois do primeiro tremor, a Petrobras fez mais dois comunicados: um, Coelho também renunciou à presidência do conselho de administração, dois, Fernando Borges, atual diretor de exploração e produção, assume interinamente o comando do colegiado.
Mais grave, agora não se trata apenas de uma intervenção "de governo", mas de um aliado poderoso que já custou muito à estatal: o Centrão. Nesse cenário, o pedido de abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) feito pelo presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) embute ainda mais riscos ao próprio Planalto. Como diz uma máxima que corre em Brasília há muitos anos, CPI que é algo que se sabe como começa, mas não se sabe como termina.
A renúncia de Coelho abre as portas para um plano do governo Bolsonaro de fazer uma intervenção sem muitos disfarces na companhia, inclusive para rever as regras internas que estabelecem a política de preços da estatal. Era uma tentativa conhecida nos bastidores da empresa e de todo o mercado financeiro. A operação inclui, nos próximos passos, a destituição de toda a atual diretoria.
O atual governo não é muito chegado em história, mas algum assessor mais ilustrado vai lembrar: a mais recente CPI da Petrobras foi aberta em 2009 e retomada em 2014, a partir do escândalo de corrupção na companhia. O impeachment da então presidente reeleita Dilma Rousseff foi justificado por "pedalada fiscal" (iguais às cometidas reiteradamente no atual governo), mas o que abalou mesmo a estrutura foi a investigação do que ficou conhecido como "petrolão".
Um dos motivos da corrupção que entranhou a companhia, na época, foi a distribuição de cargos, pelos governos petistas, para os aliados do Centrão. Um dos pivôs de todo o caso, Paulo Roberto Costa, era indicado do PP, mesmo partido de Lira. Seria pedagógico para os brasileiros voltar a olhar para esse assunto agora, às vésperas de nova eleição.
Agora, uma nova CPI investigaria só a política de preços, que, sim, tem equívocos? Ou também a perda de valor de mercado da companhia, o que significa prejuízo ao erário, com todas as intervenções brancas, coloridas ou efetivas já efetuadas pelo governo Bolsonaro? Embora fale em abertura de uma investigação, é óbvio que isso vai ficar no cada vez mais extenso repertório de bravatas da atual gestão. Mas o futuro sempre pode surpreender.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.