Com a discussão sobre a "banda do barril" — algum tipo de limitação a reajustes dos combustíveis — ganhando força, a coluna ouviu e leu argumentos de que a medida causaria prejuízo à Petrobras. É preciso debater a iniciativa do governo Bolsonaro que tem objetivo eleitoreiro, mas com argumentos honestos e transparentes. O risco de prejuízo não é.
Isso não quer dizer que seja bom congelar preços de combustíveis para não perder votos, especialmente porque o tamanho da conta final é uma incógnita.
A estatal que teve R$ 44 bilhões de lucro no primeiro trimestre está bem longe de virar para prejuízo. De janeiro a março, a Petrobras extraiu 2,8 milhões de barris por dia de óleo equivalente (soma de petróleo e gás natural). Nesse período, alcançou recorde no pré-sal, com 2,03 milhões de barris de óleo equivalente por dia, 72% da produção total da Petrobras.
A companhia não costuma divulgar o custo de extração no pré-sal com muita transparência, mas o mercado estima que o chamado "custo de extração" (lifting cost, no jargão do setor) esteja por volta de US$ 7, para usar um número conservador (há situações em que a cifra baixa a menos de US$ 3). Então a Petrobras quer alinhar com esse custo de US$ 7 aos US$ 114,32 da cotação do tipo brent hoje? Não, calma lá.
Sobre o custo de extração, há uma cascata de outros valores — de impostos federais e estaduais a questões contábeis, como depreciação — que elevam o custo do barril de petróleo da Petrobras para cerca de US$ 60. Ainda assim, é quase metade do valor de mercado do mesmo volume de óleo tipo brent, usado pela estatal para balizar sua política de reajuste de preços.
O problema é que o mercado de petróleo e gás está nas mãos de Vladimir Putin. A guerra na Ucrânia já completou três meses, não há sinais de que termine tão cedo e as pressões sobre os preços só aumentam, pressionados tanto pelo conflito militar quanto pelas sanções econômicas de parte a parte.
O gás natural atingiu o maior preço em 15 anos, há temores sobre o abastecimento de diesel em todo o mundo. O risco de congelar preços nesse cenário não é de prejuízo à Petrobras, é espetar uma conta de soma imprevisível no bolso de todos os contribuintes brasileiros, mesmo o que não tem orçamento para andar de carro. Sim, já vimos esse filme no governo Dilma, que ajudou a transformar a Petrobras na petroleira mais endividada do planeta. Mas a ideia era fazer igual?
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.