Em 24 de fevereiro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou que tropas do país iniciassem a invasão do território da vizinha Ucrânia. Passados três meses, o saldo é de mortes e de destruição.
Mais de uma dezena de civis ucranianos foram mortos, especialmente na cidade portuária de Mariupol. Por todo território ucraniano, as imagens de prédios destroçados marcam a paisagem. Outro reflexo é o número de refugiados: seriam pelo menos 6 milhões.
No cenário global, o conflito empurra para cima os preços e provoca inflação em diversos países, em meio a retaliações impostas por várias nações ao governo de Moscou.
A única certeza que há, neste momento, é que uma solução para colocar fim ao conflito bélico ainda está longe de ser alcançada.
Confira perguntas e respostas sobre o conflito
Qual é a situação atual da guerra?
Nos últimos dias, a Rússia intensificou a ofensiva no leste da Ucrânia. A situação é cada vez mais difícil para os ucranianos na região do Donbass, onde Moscou bombardeia a cidade de Severodonetsk sem trégua.
No front, várias cidades ucranianas, como a capital, Kiev, Mariupol e Kharkiv foram bombardeadas durante o conflito, mas as tropas russas não conseguem ingressar nas áreas urbanas graças à resistência local, maior do que Putin esperava. Na segunda-feira (22), ocorreu o primeiro julgamento de um soldado russo por crimes de guerra. Vadim Shishimarin, 21 anos, foi condenado à prisão perpétua.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima em mais de 6 milhões os refugiados que deixaram a Ucrânia após a invasão russa. A projeção é de que o número possa chegar a 8,3 milhões.
No âmbito econômico, em maior ou menor grau, toda a economia mundial é afetada pela guerra e as consequentes sanções contra Moscou. A ofensiva deve causar uma contração maciça da economia ucraniana, estimada em 30% pelo Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) e de até 45% pelo Banco Mundial.
Enquanto a ofensiva continua devastando grande parte do território ucraniano, a ajuda para a reconstrução do país já está sendo discutida. Para sustentar o país, Kiev estima que precisa de US$ 5 bilhões por mês. Países do G7 têm se reunido para cobrir o orçamento ucraniano para o trimestre atual.
No âmbito geopolítico, a provável entrada de Finlândia e Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) acontece em um contexto marcado pela guerra na Ucrânia e ameaças de retaliação russas. Na terça-feira (17), a Rússia expulsou dois diplomatas finlandeses e anunciou a saída do Conselho do Báltico, um fórum de países da região do Mar Báltico que tem sede em Estocolmo. O governo russo justificou a saída por considerar que os países ocidentais "monopolizam" o grupo para seus objetivos conjunturais, "em detrimento da Rússia".
Como começou a guerra na Ucrânia?
Ao amanhecer de 24 de fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, que tinha concentrado entre 150 mil e 200 mil soldados em torno da Ucrânia nas semanas anteriores, anuncia uma "operação militar" para defender as "repúblicas" separatistas autoproclamadas do leste do país, cuja independência havia reconhecido três dias antes. Pouco após o anúncio, são ouvidas fortes explosões em Kiev e várias cidades do leste e do sul da Ucrânia. O governo ucraniano denunciou uma "invasão em larga escala".
A ofensiva provocou indignação internacional, reformulou o cenário geopolítico e levantou temores de crises econômicas globais. A Rússia foi atingida por severas sanções, incluindo congelamento de ativos e proibições de exportação.
Por que está ocorrendo a guerra entre Rússia e Ucrânia?
Putin acusa a Ucrânia de cometer um genocídio na região leste do país e de querer produzir a bomba atômica. Quando a guerra começou, dois terços dessas regiões orientais estavam nas mãos da Ucrânia. O restante era controlado pelos separatistas, que criaram pequenos estados autônomos apoiados pela Rússia durante outro conflito, em 2014. Pouco antes da guerra atual, Putin reconheceu todo o território das duas regiões orientais como sendo independentes da Ucrânia.
A Ucrânia nunca mencionou suas ambições nucleares. Em 1994, um acordo, o Memorando de Budapeste, previa que a Rússia respeitasse a integridade territorial da Ucrânia em troca de Kiev renunciar ao arsenal nuclear soviético. O memorando incluía garantias de segurança contra ameaças ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia, Belarus e Cazaquistão.
Como resultado, entre 1994 e 1996, Belarus, Cazaquistão e Ucrânia desistiram de suas armas nucleares.
Putin também diz que deseja obter "garantias de segurança", ou seja, o fim da ampliação da Otan, especialmente que a Ucrânia nunca entrará para a organização, e a retirada das forças da Aliança do leste da Europa. De acordo com o presidente russo, a Ucrânia quer recuperar a península da Crimeia. E se Kiev aderir à Otan, tentará fazer isto, o que levaria Moscou e o Ocidente a uma guerra entre potências nucleares.
Por que a Guerra na Ucrânia aumenta o preço diesel no Brasil?
Conforme Décio Oddone, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a pressão sobre o diesel aumentou quando o preço do gás natural subiu na Europa, ainda antes da guerra, e as refinarias reduziram o uso dessa alternativa para reduzir o teor de enxofre. Com a retomada pós-pandemia e a guerra, só piorou, a ponto de afetar o outro lado do Atlântico.
— A Rússia responde por quase 25% das exportações globais de diesel. Sem falar nos volumes exportados pelos vizinhos que processam petróleo russo e nos produtos semiprocessados que refinarias europeias buscam na Rússia para fazer diesel. E a situação ainda não reflete o que pode ocorrer com as novas medidas adotadas contra a Rússia. Quando a União Europeia colocar em vigor as novas sanções (boicote a gás e petróleo russos, dentro de seis meses) e a China cancelar os lockdowns, pode haver um movimento relevante no mercado, entre 3 milhões e 5 milhões de barris ao dia, entre redução da oferta russa e a volta da demanda chinesa. Devemos ter um segundo semestre difícil — prevê Oddone.
Apesar do panorama acidentado, Oddone avalia que o preço do diesel nas bombas não deve ultrapassar os da gasolina no Brasil, principalmente porque a carga tributária sobre o combustível da classe média é muito mais alta do que a do usado para o transporte de cargas.
Como e quando pode acabar a guerra?
Há expectativa de que o conflito termine por vias diplomáticas, mas não há previsão. As negociações se iniciaram no dia 28 de fevereiro, sem que levassem a algum resultado tangível. Depois que as forças russas entraram na Ucrânia em 24 de fevereiro, foram organizadas rodadas de conversações entre os dois países. Os ministros das Relações Exteriores russo e ucraniano se reuniram em março na Turquia e as delegações se encontraram em Istambul, mas sem sucesso.
Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodimir Zelensky, disse ao Financial Times que qualquer acordo envolveria "a retirada total das tropas da Federação Russa do território da Ucrânia", ocupadas desde o início da invasão em 24 de fevereiro — ou seja, regiões do sul ao longo os mares Azov e Negro, bem como território a leste e norte de Kiev. A Ucrânia manteria suas forças armadas, mas seria obrigada a ficar fora de alianças militares como a Otan e a se abster de hospedar bases militares estrangeiras em seu território.
Podoliak, no entanto, declarou na última terça-feira (17) que os diálogos tinham sido suspensos, enquanto a Rússia centralizou sua "operação especial" no leste da Ucrânia. O negociador russo Vladimir Medinsky afirmou no último domingo (22) que a Rússia está disposta a retomar os diálogos de paz com a Ucrânia, assegurando que foram suspensos por causa de Kiev.