Na manhã desta quinta-feira (5), a moeda norte-americana chegou a subir mais de 3% ante o real, enquanto a bolsa caía 4%, movimentos de dimensão rara no mercado financeiro. Até o fechamento, porém, o estresse diminuiu, e o dólar subiu "apenas" 2,3%, para R$ 5,017, enquanto a perda na bolsa foi "só" de 2,8%.
A reação foi uma espécie de ressaca da superquarta, quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) fez a maior alta de juro dos últimos 22 anos, e o Banco Central (BC) avisou que não foi possível encerrar o ciclo de alta do juro no Brasil neste mês.
A redução do estresse nacional é ainda mais notável diante dos resultados nos Estados Unidos, onde o índice Dow Jones da bolsa de Nova York despencou 3,25%, no pior dia desde 2020. A Nasdaq, bolsa de tecnologia, teve tombo ainda maior, de 4,99%.
— Ontem, o mercado quis 'dar uma operada', não deu para entender (a reação otimista). Não engoli aquela história de que estava tudo ok porque o Fed não iria elevar o juro em mais de 0,5 ponto nas próximas reuniões. Hoje, a reação é mais adequada ao cenário de uma desaceleração global, da qual o Brasil não vai ficar fora — observou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Roberto Padovani, que já havia advertido para o papel do Fed para o câmbio no Brasil, pondera que, na véspera, a grande preocupação era com a possibilidade de que o BC dos EUA desse sinal de aceleração ainda maior do aperto monetário. Como não veio, houve alívio, mas foi momentâneo:
— O que estamos vendo no mundo é mais choque, não menos choque. Não há sinal de normalização das cadeias produtivas, o que significa cenário muito complicado de inflação. Hoje (quinta, 5), declarações dos bancos centrais da Inglaterra e da Europa reforçaram a preocupação com a inflação e colocaram novamente o tema no radar.