Como se esperava, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou alta de 0,5 ponto percentual em sua taxa básica de juro. É uma decisão histórica, porque é a maior elevação em 22 anos - a mais recente desse tamanho ocorreu em 2000.
O Fed não surpreendeu ninguém, mas a decisão representa pressão extra sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) que está reunido para anunciar o novo patamar da Selic no final da tarde desta quarta-feira (4).
Uma alta de juro nos EUA sempre significa que aplicar recursos por lá se torna mais atrativo. Portanto, costuma tirar dólares de países emergentes, como o Brasil. Mas é preciso considerar que, mesmo com a alta histórica, a taxa de referência ficou em 0,75%, ou seja, 17 vezes inferior à Selic, que hoje está em 11,75% e deve subir para 12,75% ao final do dia.
Como veio exatamente do tamanho que o mercado previa, o dólar, que chegou a ser cotado acima de R$ 5 pela manhã, recuou para um patamar ligeiramente abaixo depois da decisão do Fed e segue cotado abaixo desse limite psicológico.
Mas além da elevação do juro, o Fed tomou outra decisão, igualmente esperada, com potencial para ter reflexos no Brasil pela via da alta do dólar. Vai "enxugar seu balanço" em US$ 9 trilhões. Mas o que é isso, afinal? Para reagir à crise econômica provocada pela pandemia, o Fed injetou um valor estimado entre US$ 2,5 trilhões e US$ 3 trilhões em dois anos e meio, por meio da compra de títulos .
Esse mecanismo é um dos motivos da alta da inflação ao longo da pandemia. A expectativa é de que sua desmontagem (tapering, em mercadinglês) ajude a desinflar a bolha que assusta o mundo. Para isso, precisa começar a revender o que comprou. O Fed chama esse movimento de "reduzir o balanço". A previsão era de que só começasse em 2024, mas a explosão inflacionária acelerou o cronograma. Como equivale a "enxugar" dólares do mercado, é outra fonte de pressão potencial no câmbio.
Há expectativa de mais uma alta de 0,5 ponto percentual em junho, seguida por quatro de 0,25 ponto até o final do ano. O Fed deve elevar mais três vezes o juro 2023 para chegar a uma taxa entre 3% e 3,25% no final do ciclo. Essa é uma das contas que o Copom está fazendo para decidir se para de aumentar a taxa no Brasil agora ou se precisará de elevações adicionais. Esse será o grande recado do comunicado que deve sair depois das 18h30min.