A consultoria internacional McKinsey havia anunciado a abertura de um escritório em Porto Alegre meses antes da pandemia. Embora tenha intensificado o trabalho no Estado no período, só há pouco "pendurou a placa", disse à coluna Reinaldo Fiorini, sócio-gerente da unidade nacional, que esteve na Capital para um evento com potenciais clientes.
Discreta, a empresa não revela quem atende no Estado, mas quando a coluna quis saber o que mais aflige as empresas nesse momento de tantas indefinições, Fiorini contou uma história curta:
— Um cliente me disse, há pouco, que não sabe o que vai acontecer, mas quer dormir tranquilo. Isso significa que o possível é controlar o que é controlável.
Para isso, a saída é buscar o melhor para estar mais competitivo do que os demais, disse Fiorini. Na visão do sócio-gerente, depois de muita discussão sobre o formato da recuperação do Brasil — se seria em V (versão favorita do ministro da Economia, Paulo Guedes), W, L ou até raiz quadrada, ele chegou a uma conclusão: será em K. Significa que parte da economia vai decolar, outra parte vai aterrissar.
— O que vai definir quem estará onde é o grau de preparação — diz Fiorini.
A crise de suprimentos, admite, é uma das maiores dores de cabeça nesse momento. Nesse desafio, afirma, as empresas tendem a passar do critério da maior eficiência — mérito de custo, ou quanto mais barato, melhor —, para o de maior resiliência, ou seja, o que dá mais segurança à produção.
Em um ainda desejado pós-pandemia, Fiorini vê uma "rearrumação" da economia global nos próximos dois a três anos. Entre os conceitos que têm surgido depois do nó na logística global causado pela pandemia e dos problemas de abastecimento e preços provocados pela guerra, Fiorini destaca o "friendshoring".
Até agora, já falou em onshoring (nacionalização da produção) e nearshoring (regionalização da produção, para reduzir custo logístico). Como isso não se faz estalando os dedos, surgiu essa nova alternativa, que significa encomendas menos expostas a problemas geopolíticos, que tem potencial para favorecer o Brasil.
Em um mundo no qual sustentabilidade passou a ser um valor empresarial absoluto, pondera o executivo, o país deveria estar valorizando o fato de que produz com menos gás carbônico do que em outras geografias e discutindo como vender créditos de carbono para os Estados Unidos e a Europa.
— Está tudo ainda muito triste e esquisito, mas é preciso focar no que é controlável e nas oportunidades que podem surgir. No Brasil, que tem um enorme mercado interno, riquezas naturais, talento e tecnologia, há boas perspectivas para quem investir.
Sérgio Canova Jr, que vai comandar a operação da McKinsey em Porto Alegre, observou que é gratificante ver como clientes empresas que tinha como referência na infância e poder contribuir para trazer algo de volta com a expertise da consultoria.