O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A Big Data, empresa com DNA gaúcho do CEO, Gustavo Ioschpe, transforma dados em soluções de Inteligência Artificial (IA) para a tomada de decisão em diversos setores. Em processo de internacionalização, em Nova York, a pioneira e líder no mercado brasileiro há nove anos, quer chegar a 50% do faturamento fora do país para dobrar de tamanho.
Como surgiu a Big Data?
Partiu de uma percepção clara e que convergia com um gosto pessoal que era o de substituir achismos por dados. Foi com base nessa percepção, de que existia demanda por processos ligados às vendas e marketing com mais rigor, ciência e dados que começamos. Havia oferta, pois tudo que se produz deixa rastro de dados, assim como operações em nuvem, sem as quais o que fazemos, hoje, seria proibitivamente caro, pois seria necessário, antes da empresa, instalar um data center de três ou quatro mil computadores. Com os avanços foi possível criar algoritmos para digerir quantidade enorme de dados e entregar coisas que fazem total sentido às empresas.
O crescimento foi rápido?
Foi difícil, porque fomos pioneiros e para muita gente, em 2013, a IA soava como ficção científica . Por outro lado, existia convicção forte de que era o momento. Na época, recomendavam trabalhar com uma empresa de muita visibilidade. Foi assim que chegamos na Ambev, batemos na porta, fechamos o contrato, conseguimos uma entrega bacana e trabalhamos com eles até hoje.
Quais os outros destaques?
Tem muita coisa bacana, com a AMBEV foi a primeira operação mundial da EBI (empresa que fornece soluções no mercado de insumos cervejeiros) para vendas e roda desde 2015. Com eles, não apenas realizamos a primeira etapa, que consistia em informar o vendedor da empresa sobre quantas unidades de produtos e com que valores e descontos era possível vender para cada um dos milhões de bares, a cada dia, mas também participamos de toda a transformação digital. E, hoje, a venda não tem mais vendedor, é por um aplicativo que vai para o dono do bar ou restaurante. Estamos com um projeto no Burger King para sofisticar a precificação e para que cada unidade, em contextos diferentes, tenha um preço apropriado. Conseguimos determinar um preço maior num shopping de alta renda, do que em uma loja de rua, por exemplo.
O Brasil ficou pequeno?
Não vamos perder o DNA. Maior parte do faturamento vem do Brasil, mas esperamos mudar isso nos próximos dois anos, com mais da metade vindo do mercado externo. A maioria das empresas trabalham só em cima do dado do cliente. Nós apostamos muito em dados externos, no Brasil, são mais de 17 mil variáveis, nos EUA, 20 mil. Sabemos tudo que envolve aquele local, onde está uma loja, quantas pessoas vivem lá, qual a religião predominante, o nível educacional, renda, perfil etário, quantos carros circulam, a base de CNPJ, outros negócios próximos, enfim, uma gama de parâmetros que tornam a análise mais assertiva. Há alguns anos, trabalhamos com a Unilever em um projeto da Kibon, a diferença de colocar um algoritmo de clima é brutal, pois tem um impacto gigantesco na opção de compra. Quando conseguimos ter uma boa previsão, é possível captar, por exemplo, em Porto Alegre, o Veranico de maio, ou seja, coisas não previstas e que trarão efeito.