Depois do trauma do atraso no reforço da transmissão por problemas da Eletrosul, é um sopro de alívio que essas obras estejam avançando em velocidade raramente vista no Estado.
Essa é a tal de "condição necessária, mas não suficiente" para fazer com que os ventos aumentem a geração de energia no Estado. O reforço na transmissão remove um obstáculo absoluto — não adianta produzir eletricidade se não há como transportá-la — mas ainda há desafios para semear novos aerogeradores pelo território gaúcho.
Para além da capacidade de transportar a energia gerada em parques eólicos, para criar novos é preciso atuar sobre os demais gargalos: licenciamento ambiental, custo de financiamento e competitividade nos leilões públicos de energia. O primeiro tem promessa de solução da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que reestruturou suas atividades para dar maior agilidade à análise de projetos. Os próprios empreendedores afirmam que é melhor ter uma resposta negativa para o pedido do que esperar indefinidamente por uma resposta. Mas mesmo nessa área, ainda há "questiúnculas", ou seja, pequena pendências que podem ser resolvidas para acelerar os projetos.
Os outros dois são mais complexos. Uma queixa de todos os empreendedores do segmento é o fato de os projetos gaúchos serem mais "caros" do que os nordestinos, que contam com financiamentos subsidiados do Banco do Nordeste (BNB). De tanto ouvir essa queixa, a coluna consultou o BRDE, banco de fomento da Região Sul, que reafirmou: sem os subsídios provenientes dos fundos de desenvolvimento previstos na Constituição para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, não é possível oferecer empréstimos tão baratos.
Esse problema está diretamente relacionado ao próximo: com crédito mais caro, os projetos gaúchos chegam aos leilões públicos da União com custo da energia gerada também mais alto, o que reduz sua competitividade. Para tentar driblar esse problema aparentemente insanável, o segmento deposita suas esperanças no chamado "sinal locacional", espécie de vantagem concedida à geração de energia perto dos grandes centros consumidores.
Em análise na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o mecanismo prevê a separação entre o custo da geração e as tarifas pagas pelo uso dos sistemas de transmissão e distribuição. A expectativa dos gaúchos é de permita competição menos desequilibrada com os projetos do Nordeste. Essas pendências fizeram com que os empreendedores peçam ao governo do Estado o pedido de um fórum de caráter permanente, uma espécie de "sala do investidor", que possa encaminhar soluções estratégicas e pontuais.
O assunto é urgente não só diante a crise hídrica que virou crise energética em 2021, mas também ante os dados da Aneel. Até pela necessidade, o ano que passou teve o segundo maior aumento de capacidade instalada da história, atrás apenas de 2016. E adivinha qual foi a fonte que mais contribuiu? Sim, a eólica, com 3,7 mil megawatts (MW) a mais.
No balanço total, incluídas todas as fontes, o Rio Grande do Sul registrou escassos 43 MW, o que significa um indesejado quarto lugar entre os que menos geraram energia nova. Só não foi pior do que Espírito Santo (12 MW), Tocantins (8 MW) e Pará (0,8 MW). A Aneel não apresenta dados de outros seis Estados (Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Sergipe e Roraima).
Atualização: depois que a nota foi publicada, a coluna recebeu o retorno da Aneel sobre a situação da análise do "sinal locacional". Depois da primeira fase de consulta pública, que ainda esta na fase de análise das contribuições e é mais focada em questões regulatórias, deve começar outra, com expectativa de abertura ainda no primeiro semestre. Só então será tomada uma decisão sobre a medida.