Em tempos de crise energética, quando o Rio Grande do Sul não consegue emplacar projetos de geração nos leilões públicos federais, a coluna tenta contribuir para o debate público das soluções.
Ao ouvir empreendedores, colheu a sugestão de que o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), banco público dos três Estados do Sul, atuasse no financiamento de projetos da mesma forma que o Nordeste, ou seja, subsidiando o juro.
Foi, então, perguntar à presidente do BRDE, Leany Lemos, se é possível algo semelhante. Primeiro, ouviu uma boa notícia: até setembro, o banco chegou a R$ 118,4 milhões em operações de crédito já liberadas ou aprovadas para projetos de geração de energia com fontes renováveis só aqui no Estado. O valor é 350% maior do que o liberado em todo 2020, que havia sido de R$ 26,1 milhões.
Segundo Leany, a maior procura por financiamento vem de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs, com potência instalada de 5 MW a 30 MW) e centrais geradoras hidrelétricas (CGHs, com potência de até 5 MW). Também tem crescido a procura por geração solar, com grande número de produtores rurais consorciados para instalar painéis fotovoltaicos. E há um modelo em alta, relata: o de empresas que financiam e instalam as chamadas "fazendas solares" e alugam para que empresas se abasteçam. Projetos maiores, como os de geração eólica, envolvem maior complexidade.
– O BRDE tem bastante apetite para fazer, até porque está superalinhado com as metas do banco. Mas são projetos maiores, mais caros, que muitas vezes dependem de leilões. O BRDE financiou, por exemplo, os parques de Santa Vitória do Palmar e Chuí, mas entrou com cerca de R$ 600 milhões de um projeto total de R$ 4 bilhões – diz Leany.
E financiamento subsidiado, o BRDE pode fornecer? Aí é ainda mais complexo, pondera a presidente do BRDE:
– As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm fundos constitucionais de desenvolvimento. Aqui, não conseguimos atuar como o Banco do Nordeste, que usa esses recursos baratos para oferecer linhas altamente subsidiadas. Nosso desafio é esse, o custo de crédito.
Conforme Leany, o Banco do Nordeste opera o fundo, que oferece prazo de 20 anos, com juro anual de 2,2% mais IPCA. Com a disparada da inflação, esse custo subiu, mas ainda é muito mais baixo do que a média. E acrescenta:
– O BRDE capta recursos de várias fontes, usa recursos próprios, linhas internacionais. Essas são mais baratas, mas têm risco cambial, e fazer hedge (espécie de seguro contra a volatilidade cambial) aumenta o custo. O banco tem apetite, quer fazer, mas há uma enorme diferença de acesso. Para ter juro subsidiado, só se tivéssemos um fundo igual ao que o Nordeste tem.