O que estava desenhado como o principal risco para 2022 do Eurasia Group começa a se materializar: com a disseminação da variante Ômicron pela China, o governo do país insiste na política "covid zero" e volta a impor lockdows em cidades afetadas.
Como resultado, a variante que o presidente Jair Bolsonaro considerou "bem-vinda" — e teve de ouvir, do diretor-executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mike Ryan, que nenhum vírus que mata pessoas é bem-vindo — paralisa a produção.
Conforme relato do Banco Original, empresas como Samsung, Volkswagen e fornecedoras de marcas como Nike e Adidas já estão enfrentando impactos na cadeia.
Também de acordo com a instituição financeira, a Toyota paralisou suas operações fabris em em Tianjin nesta semana. A cidade é um centro industrial que responde por 1,7% das exportações chinesas.
Agora, Tianjin evoca Wuhan, primeira cidade a ser isolada para conter o coronavírus na China. Tem 14 milhões de habitantes e fica a cerca de 100 quilômetros de Pequim. A proximidade é uma das causas das medidas duras, inclusive porque os Jogos Olímpicos de Inverno devem começar em 4 de fevereiro, em Pequim. Em Tianjin, foi detectada a primeira disseminação comunitária de Ômicron da China, no sábado (8).
Ainda segundo cálculos do Original, o atraso de uma semana no comércio essencial no porto de Ningbo, a cerca de 1,1 mil quilômetros ao sul de Tianjin, pode afetar operações estimadas em US$ 4 bilhões, incluindo a exportação de US$ 236 milhões em placas de circuitos integrados. A escassez desses semicondutores travou a produção de vários segmentos ao redor do mundo, especialmente da indústria automobilística.
O resumo dos principais riscos globais, segundo o Eurasia Group
1. Não há risco zero em covid
O sucesso inicial da China na política de zero-covid e o envolvimento pessoal do presidente Xi Jinping nessa estratégia torna impossível uma mudança de curso, que pode ter custo alto.
2. Mundo technopolar
O mundo físico está uma bagunça porque nenhum país quer ou consegue se impor como liderança global e o espaço digital tem governança ainda mais frágil.
3. Eleições congressuais nos EUA
O voto neste ano não deve provocar uma crise, mas representa um ponto de inflexão histórico.
4. China em casa
As políticas de Xi Jinping elevam o risco de estagnação em um momento em que a economia chinesa enfrenta problemas.
5. Rússia
Se Putin não obtiver concessões dos EUA e do mundo ocidental, é provável que aja e deflagre uma crise internacional.
6. Irã
O governo Biden não se preparou para a possibilidade que que o governo de Teerã não esteja interessado em retomar o acordo nuclear.
7. Na energia verde, dois passos à frente, um atrás
A transição energética já está ocorrendo, e não será suave.
8. Países abandonados
Ninguém quer preencher o vácuo de poder global e muitos países e regiões vão sofrer as consequências.
9. Corporações e as guerra culturais
Empresas vão gastar mais tempo e dinheiro para avaliar posicionamento em temas como ambiente, questões sociais, política e cultura.
10. Turquia
A política externa de Erdogan seguirá ameaçadora para distrair eleitores da crise econômica interna.