Uma autorização crucial para tirar do papel um megaprojeto eólico no Rio Grande do Sul foi dada: o Conselho de Defesa Nacional (CDN) deu permissão para construção do Complexo Três Divisas, entre Alegrete, Uruguaiana e Quaraí.
O projeto é da gaúcha Renobrax com uma empresa dinamarquesa, que formaram a Ybytu Empreendimentos de Energia Renovável para construir um parque eólico de 810 megawatts (MW) com 180 aerogeradores e investimento estimado em R$ 4 bilhões.
Conforme Pedro Mallmann, diretor da Renobrax, a intenção é implantar o parque com foco no mercado livre, ou seja, independente dos leilões públicos de energia. Mas o empreendedor não descarta a hipótese de disputar um leilão se houver alguma mudança nas regras, como a adoção do chamada "sinal locacional", que reduz custos de conexão.
Havia necessidade de autorização do CDN, explicou Mallmann, por se tratar de área contígua à fronteira e envolver um sócio estrangeiro. A coluna quis saber porque a escolha foi de um local que oferecia um obstáculo a mais.
— Pela qualidade do recurso. Essa região da fronteira com o Uruguai tem muito vento. A Fronteira Oeste deve ser o próximo foco dos projetos eólicos no Estado. Combina bons ventos com escala para os projetos — respondeu Mallmann.
A coluna soube da aprovação pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que relatou ter recebido pedido de ajuda do prefeito de Alegrete, Márcio Amaral (MDB) para liberação do projeto. O senador relatou que acumula 10 meses de trabalho para facilitar o processo. Segundo Mallmann, houve apoio de todas as esferas de governo, dada a importância do projeto. Lembrou que a capacidade instalada total de eólica no Estado é de 1,8 mil MW, então o Três Divisas vai acrescentar quase metade (45% a mais).
— Ter autorização do CND era uma questão de sim ou não para o projeto. Sem o assentimento, o projeto cairia por terra — diz Mallmann.
O próximo passo, detalha o empreendedor, é encaminhar o pedido de outorga e, até a metade do ano, entrar com pedido de licença de instalação, que permite o início da construção. A intenção é dar largada nas obras no início de 2023, para ter o parque operando no primeiro trimestre de 2025. O financiamento passa pelo BNDES. Segundo Mallmann, o banco de investimento público está aceitando contratos de menor prazo, entre quatro e cinco anos, para servir como garantia ao empréstimo.
Mallmann disse que já existem "algumas conversas" com compradores da energia gerada, mas evitou citar nomes. Disse apenas que, até pela falta de projetos no Rio Grande do Sul nos últimos anos, "o mercado é comprador de energia no Sul":
— O Rio Grande do Sul foi pioneiro, mas o problema de conexão nos deixou muitos anos fora desse mercado. Agora, há uma retomada de projetos eólicos no Estado. Isso cria o ambiente para retomada de projetos desse porte, que são importantes para dinamizar a economia e retomar a cadeia eólica. Talvez o Complexo Três Divisas possa ajudar a puxar essa fila.
Livre e cativo: como funcionam os mercados de energia
No mercado livre, o consumidor compra energia diretamente dos geradores ou comercializadores, por contratos privados com preço, prazo e volume negociados livremente entre as duas partes. Só quem tem consumo acima de 500 quilowatts pode comprar nesse mercado, formado principalmente por empresas.
O mercado cativo envolve as concessionárias de distribuição, que compram energia gerada em leilões públicos organizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), onde são definidos preços, prazos e volumes. Os consumidores residenciais são atendidos dessa forma.