No país em que os salários são reajustados pelo INPC (10,74% acumulado nos últimos 12 meses até novembro) e a maioria dos contratos de aluguel é atrelada ao IGP-M ( 17,89% na mesma base de comparação, depois de queda forte), surge um potencial alívio para os conflitos resultantes desse desequilíbrio: um novo índice para corrigir o valor da locação residencial.
Demorou, mas agora é questão de dias: o Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (Ivar/FGV) será anunciado pelo FGV Ibre na terça-feira (11), mesmo dia em que o Brasil vai conhecer o INPC e o IPCA "cheios" — de janeiro a dezembro — de 2021. O que se sabe até agora é que será calculado com base em dados coletados de contratos assinados por inquilinos e locatários de quatro capitais: Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, obtidos com empresas administradoras de imóveis.
A coluna aguardava este anúncio há mais de um ano, quando começou a abrir a "boca de jacaré" entre os índices mais conhecidos de inflação no país (veja abaixo). Em agosto de 2020, o IGP-10, "irmão" do IGP-M, subiu 2,53% em apenas em agosto, enquanto o INPC acumulava alta de 2,94% em 12 meses até aquele período.
Diante do comentário da coluna de que não era possível conviver com reajuste salarial pelo INPC (quando há reposição integral, o que não ocorre em 100% dos casos) e aumento pelo IGP-M, o coordenador de índices de preço do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), André Braz, mencionou a possibilidade de criação de um novo indicador para aluguéis.
Pode marcar o fim da saia-justa entre inquilinos, proprietários e imobiliárias, que nos últimos dois anos tiveram de fazer ginástica para encontrar uma equação aceitável para o reajuste dos aluguéis. Como avisa o Ibre FGV, o objetivo é "medir a evolução dos preços e preencher uma lacuna nas estatísticas nacionais nesse nicho".
O indicador usa valores negociados dos aluguéis em vez de dados de anúncios como base de cálculo, incluindo contratos novos e reajustes dos existentes, além das características de cada imóvel. O nome já credencia o novo índice para se tornar o "VAR" do aluguel.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três componentes: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado oficial porque serve de referência para o Banco Central calibrar o juro básico. Mede variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.