Com o resultado de novembro, o IPCA, indicador oficial de inflação do Brasil, acumula alta de 10,74% nos últimos 12 meses. O resultado do governo Bolsonaro supera em três centésimos o pico da inflação acumulada na gestão Dilma Rousseff, que atingiu o pico de 10,71% em janeiro de 2016.
A seu favor, Bolsonaro tem o argumento de que a inflação, neste momento, é um fenômeno global, embora muito intensificado no Brasil. Contra, nas camadas de renda mais baixa, não há preocupação com a origem da alta de preços. Importa mais seu impacto na renda.
O nível acumulado de dezembro de 2020 a novembro de 2021 também é o maior desde novembro de 2003, quando chegou a 11,02% em 12 meses. Foi o ano pressionado pela disparada no câmbio em 2002, provocada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência. Neste ano, se a alta de preços de matérias-primas básicas é global, a alta do dólar é maior no Brasil por conta do "ruído político" que vem do Planalto.
Na bolsa de valores, o fato de o IPCA de novembro ter vindo levemente abaixo do previsto, de 10,88% — ou 1,14 décimo a menos — é motivo de entusiasmo. Se tudo der certo, o indicador deve mesmo desinflar nos próximos meses. No mais recente boletim Focus, divulgado pelo Banco Central a partir da coleta das projeções de uma centena de instituições financeiras e consultorias de mercado, a estimativa mais frequente foi de 5,02%. Ainda é muito, mas é menos da metade do acumulado até agora.
Isso significa algum alívio? Sim, mas pouco. Os preços devem perder o elevador, mas seguirão subindo de escada. Produtos e serviços não ficarão mais baratos, apenas serão remarcados em velocidade menor. Ajuda, mas ainda é um cenário de consumo limitado ao essencial, no grande volume, e preferências determinadas pelo custo.
— Como a velocidade de queda da atividade parece ser maior do que a da redução da inflação, há uma combinação rara de desemprego e alta de preços, trazendo o tema da estagflação ao debate. O problema é que a avaliação do governo é fortemente influenciada por essas duas variáveis, que compõe o chamado índice de desconforto. Esse indicador está agora em seu nível mais elevado em 20 anos, superado apenas pelas tensões do período 2002/03 — observa Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim (BV).