Apenas três anos depois de assumir o cargo, Daniel Randon deixa de ser CEO e fica na presidência das Empresas Randon. O novo CEO é Sérgio Carvalho, até agora diretor de operações e vice-presidente.
Em conversa com o empresário e o executivo, ficou claro para a coluna que parte do movimento é melhorar a governança do grupo, mas também intensificar e acelerar a internacionalização da empresa.
Segundo Randon, um dos papéis do novo CEO será "apoiar o crescimento contínuo de internacionalização". Carvalho está na Randon há quatro anos, mas conhece a família há duas décadas, entre outros motivos porque atuou na Meritor, uma das empresas que têm associação (joint venture) com a indústria gaúcha. Aliás, o currículo do executivo é praticamente uma manifestação de intenções:
— Sou brasileiro, mas fiz carreira no Exterior. Tive oportunidade de dirigir grandes multinacionais, como a Meritor. Também atuei em China, Índia, Austrália e Turquia. Tenho vivência bastante significativa no segmento industrial, de autopeças e veículos comerciais pesados e fora de estrada.
Randon reforça que a "evolução" vem em um momento de "enorme" incremento de atuação em outros segmentos, depois de anos focada em implementos e autopeças. A inovação passa por pesquisa e desenvolvimento próprios, que fez surgir a Nione, de nanotecnologia, que já tem seu primeiro produto: uma pré-mistura com nanopartículas de óxido de nióbio, que servirá como base para aplicação em revestimentos protetivos.
E também por aquisições, como a da Auttom, da qual tem 80% do capital. Tem entre suas fornecedoras cerca de 50 startups e investe em sete, em negócios que estão na cadeia das Empresas Randon.
— Governança não é uma mudança que se faz de uma hora para outra. A empresa nasceu em 1949 e, em 1979, fez seu primeiro movimento importante ao abrir capital. Quando se muda de dono para sócio, as responsabilidades são diferentes. É preciso olhar para o todo. Em 2009, meu irmão David sucedeu o pai (Raul Randon). Ficou 10 anos, e acertamos que, depois disso, os executivos iriam assumindo a operação para a família ficar só na estratégia. Assumi, nos últimos três anos, para dar continuidade a esse caminho que o David pavimentou bem. Quando assumi, era a primeira vez em que havia só uma pessoa da família na executiva. A Randon tem crescido bastante, tínhamos 8 mil pessoas em 2016, agora são 15,5 mil, e nossa receita bruta, pela projeção mais recente, chegará a R$ 12 bilhões neste ano — detalha Randon.
A coluna quis saber mais sobre os projetos de internacionalização, e o empresário disse que não pode antecipar movimentos futuros, mas diz que o conglomerado já tem, hoje, 20% de sua receita em dólar, tanto de exportação quanto de unidades no Exterior:
— Pretendemos continuar esse processo de internacionalização, até para ter mais equilíbrio, mais dólares na nossa receita. Nosso modelo diversificado em segmentos e em países, dá mais estabilidade. Tem muita gente preocupada com o Brasil em 2022, com produção diversificada temos mais estabilidade. Cerca de 23% da nossa receita vem de peças de reposição, um consumo que cresce em crises. Em países onde há muita instabilidade, empresas diversificadas sofrem menos do que as com negócio muito focado em uma linha de produtos ou um país só. Na crise de 2015/16, emergimos extremamente fortes. Na de 2020, fechamos o ano com recordes. Sofremos, sim, mas bem menos do que outras empresas. Queremos continuar fazer aquilo que tem dado certo.
Além da atuação mais institucional, Randon continua à frente das agendas ESG (sigla em inglês para governança corporativa, social e ambiental) e de inovação, consideradas estratégicas no grupo.