O alcance da comoção provocada pela morte do avô, Adelino Colombo, surpreendeu seu neto e sucessor, Eduardo. Nesta segunda-feira (18), já como presidente do grupo que diversificou atividades ao longo dos dois últimos anos, o empresário relatou à coluna como foi sua despedida e como planeja fazer o que o avô sempre pediu: "sempre dá para melhorar o que já se fez bem feito". Nessa entrevista à coluna, a primeira depois da despedida do avô, na sexta-feira (15), Eduardo Colombo já fala como presidente do grupo que diversificou atividades nos últimos dois anos. Mas como o avô, ou "opa", como chama por influência da avó de ascendência alemã, não fala só de negócios, mas de princípios, valores e sentimentos, inclusive o de gratidão a quem homenageou o fundador da empresa. E, acima de tudo, em relação a Adelino, que o ensinou a dizer que, quando crescesse, iria sentar na cadeira do 'opa'.
Como está o primeiro dia sem 'seu Adelino' na empresa?
É uma situação que, por mais que a gente não quisesse, sabia que ia acontecer. Éramos muito próximos, trocávamos confidências. Ele fez uma transição que vem sendo trabalhada desde 2018. Nos dois últimos anos, ele já vinha largado a empresa na minha mão e na da diretoria que tenho hoje. Estava conversando com uma tia e comentamos como ele fez tudo direitinho, na hora certa. Quando ele me propôs que assumisse os negócios, a ideia inicial era de eu fosse o presidente. Entendi que, por respeito, ele deveria seguir na presidência. No nosso organograma, nem existia a posição de vice-presidente, foi criada para isso. Nos últimos seis meses, ele veio muito pouco à empresa. Diminuiu a presença, como se quisesse dizer 'vocês não mais me ver por aqui. Parece que sabia, e fez tudo pensado.
Qual será sua prioridade?
Dar sequência ao trabalho. Tivemos conversas muito íntimas em relação ao negócio, que precisa ter prosperidade, mas há princípios e valores que devem ser mantidos. Era o que vínhamos construindo com a diretoria. Hoje pela manhã me reuni com todos para colocar o trabalho em dia. A dor sempre vai estar comigo, vou fazer disso meu combustível para manter o legado do Adelino e melhorar nossa empresa todos os dias. Por meio do sonho dele, muitas pessoas realizaram seus sonhos. São 4,6 mil famílias que dependem desse negócio. Além de honrar e manter o legado dele, é preciso preservar o bem-estar dessas famílias, para que esse número aumente ainda mais.
A reação à perda, até de concorrentes, foi uma surpresa?
Foi muito emocionante, ele recebeu muitas homenagens. Estou me organizando para responder a todas pessoalmente. Empresas do nosso segmento mostraram gratidão por ele, vieram homenagens de todo o país. Tinha ideia do que ele representava, mas nos últimos dias, vi que era muito mais. Ele foi uma pessoa diferenciada, que nos orgulha muito. É uma grande responsabilidade preservar tudo isso.
Você disse que a transição ocorreu nos dois últimos anos, mas lembro de ter sido apresentada a você ainda em 2009, já como sucessor.
Sempre tive a convicção e a determinação de que chegaria a esse posto. Quando era criança, ainda com menos de um ano, passava todos os finais de semana com ele. Visitava lojas os sábados e nas férias escolares. Quando ainda era bem criança, ele me ensinou a responder, quando me perguntassem o que ia ser quando crescer, que eu ia sentar na cadeira do opa. Opa é avô em alemão. Embora ele fosse italiano, a gente falava 'oma', para a avó Ruth, que tem ascendência alemã, então chamava ele de 'opa'. Mas também sempre deixou claro que dependeria do meu esforço, da minha dedicação. Se trabalhar direito, baixar a cabeça e se dedicar, fazer certo e bem, os resultados vêm, ele dizia. Passei por todos os setores da empresa, comecei como auxiliar de almoxarifado. E sempre com nível de exigência muito alto. Adelino era extremamente exigente e, comigo, muito acima da média. Para ele, nunca estava bom, sempre dava para fazer mais. Em alguns momentos, fiquei chateado e frustrado, mas hoje entendo que era para ensinar. E tive oportunidade de levá-lo a Santa Catarina, para olhar as lojas que compramos. Ele ficou feliz. Deu para ver que era o processo inverso. Aquele brilho no olho que eu tinha quando criança, pude ver no olho dele agora. Sempre tivemos respeito e carinho em diferentes fases da vida.
Você já assumiu a presidência?
Sim, desde hoje, por questão legal e lógica. E porque estava combinado com ele que seria assim. Tudo começou porque ele teve uma queda e bateu a cabeça. Quando o levei para o hospital, no dia 13, de ambulância, ele estava bem. Então brinquei, disse que só tinha faltado a gente andar de moto, porque viajamos juntos de barco, de avião, de helicóptero. Ele riu e disse 'uma hora, temos de andar de moto'. Na quinta-feira, acordei às 3h30min com um palpite de que tinha de vê-lo. Cheguei à Santa Casa às 5h30min. Ele estava um pouco sedado, mas tive a oportunidade de agradecer tudo o ele fez, apostando em mim, cuidado de mim. Também disse que, se achasse que tinha de ir, poderia ir tranquilo, porque organizamos tudo de forma segura e sólida. Ele apertou forte a minha mão. No dia seguinte, faleceu.
Como o novo presidente vai melhorar o legado do seu Adelino?
Manter os princípios e valores que ele me ensinou e executou até aqui. A gente pode melhorar para que todos trabalhem unidos. Ele sempre disse que tem só um jeito de fazer, que é o bem e o certo. Respeito e humildade são as lições básicas que ele sempre colocou. A gente melhora disseminando para outras pessoas. Faz com que a empresa cresça de forma sustentável. A máxima dele era 'sempre dá para fazer melhor o que já se fez bem feito'. Foi a frase que mais ouvi na minha vida. Já fizemos uma série de avanços, diversificamos negócios, estruturamos uma financeira, já vinha em processo de melhoria, com ajuda dele no conselho, que apoiou todas as decisões. Temos um corpo diretivo bastante qualificado, todos são da base da empresa e pessoas que tem a humildade na essência e conhecem a empresa de ponta a ponta. Têm um comprometimento acima da média. Me emocionou muito, nos últimos dias, ver como a nossa equipe é comprometida e não tem medo de trabalho. Isso conforta. Não vou assumir esse legado sozinho, há uma base estruturada, estou bem amparado e apoiado.