CORREÇÃO: Adelino Colombo tinha 90 anos, e não 89. A informação incorreta permaneceu publicada entre 12h49min e 12h53min.
A Serra perdeu um de seus gigantes do empreendedorismo. Perde o Estado, perde o país. Bom de pescaria e bom de conversa, Adelino Raymundo Colombo conhecia, como poucos, a arte de fisgar o cliente. Fundador da Lojas Colombo, o empresário, nascido em uma família de agricultores, iniciou fortuna vendendo televisores de porta em porta e construiu, em seis décadas, um império de faturamento bilionário.
Seu Adelino, como era carinhosamente chamado, morreu por volta das 11h40min da sexta-feira (15), aos 90 anos, por falência de múltiplos órgãos. Ele estava internado no Hospital São Francisco, no complexo da Santa Casa, em Porto Alegre. Deixa a esposa, Ruth Colombo, quatro filhos, 10 netos e dois bisnetos.
Nascido em Nova Milano, em 1930, guiado pela intuição e pelo talento para os negócios, fundou a Lojas Colombo há 61 anos, em Farroupilha. Hoje, a maior rede de eletromóveis do Sul e a 10ª do país, com 305 lojas e mais de quatro mil funcionários. Seu Adelino trabalhou até seus últimos dias, comparecendo a compromissos, como presidente do Conselho Administrativo da empresa. No cargo de vice-presidente, está o seu neto, Eduardo Colombo, que foi preparado pelo avô desde criança para liderar.
Paixão pelas vendas, coragem, crédito pessoal, inovação e otimismo
A Lojas Colombo funde-se com a biografia do dono, que, na vida privada gostava também de caçar, viajar e dos almoços de domingo, quando reunia a família.
Em evento dos 60 anos da Colombo, no final de 2019, Adelino lembrou dos ingredientes que fizeram a sua história: paixão pelas vendas, coragem, crédito pessoal, inovação e otimismo. Ele contou que se apaixonou pela profissão de balconista quando, ainda menino, ia com a mãe ao armazém vender as verduras produzidas na horta da família. Entrou no primeiro emprego aos 16 anos, o armazém de Manoel Pasqual, onde também foi morar, com uma muda de roupa. Aos 24 anos, virou empreendedor e comprou o armazém. Com 3 mil cruzeiros poupados, fez uma dívida de 97 mil cruzeiros para adquirir com outros dois sócios o empreendimento avaliado em 300 mil. Em pouco mais de 2 anos, quitou os empréstimos.
Trouxe para uma Farroupilha de 8 mil habitantes, à época, a venda de geladeira, mas o fundador frisava que a Colombo cresceu mesmo com a comercialização de televisores, a partir de 1960. Deixava a TV instalada na casa das pessoas para ver se funcionava e ninguém devolvia. E um cliente ia indicando outro.
Trajetória de trabalho e sacrifício
Foi uma trajetória construída com muito trabalho, mas também sacrifício:
— Só aos 25 anos de casado comprei a primeira casa para a minha família.
Sobre a economia brasileira, seu Adelino contava que viu muitas mudanças:
— Mas sempre acreditei no amanhã. Sempre há algo para ser feito no dia de amanhã.
Um dos anos mais difíceis da história recente foi 2016, quando declarou, em entrevista ao programa Serra de Negócios, da Rádio Gaúcha, que era a pior recessão que atravessava.
— Demitir trabalhadores mais chegados, mais antigos, por conta de salários, foi a pior coisa que passei na minha vida — desabafou, à época, o empresário.
Adelino Colombo sempre atribuiu ao relacionamento próximo com colaboradores o principal marco de sua trajetória de sucesso e empreendedorismo. Quando questionado sobre seu legado, certa vez, declarou:
— Cresceu na vida através do próprio esforço, cumpriu todos os seus compromissos e respeitou as pessoas.
Expansão comercial e participação em entidades
Com persistência, construiu o Grupo Colombo, composto pelas lojas de eletromóveis e pelas empresas Crediare; ColomboCred, especializada em empréstimos; Colombo Motors; Colombo Consórcios; Colombo Casa Pet; Feirão de Móveis; e a Colombo Tech, desenvolvedora de soluções de software para varejo em nível nacional. Participou ativamente de entidades associativas e do Rotary Internacional. Foi o quarto presidente da história da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul, entre os anos 1968 e 1969.
Imprimindo sua personalidade durante as décadas em que esteve no comando da companhia, Adelino expandiu a rede para os estados vizinhos, Santa Catarina e Paraná. Em 1999, em uma tentativa de nacionalizar a marca, instalou-se no interior paulista, onde a Colombo chegou ter 65 lojas. Chegou a ser a terceira maior cadeia do setor ao avançar em São Paulo e Minas Gerais.
O alto custo para anunciar e a competição agressiva do setor obrigaram o empresário a dar um passo atrás em 2012, e as unidades paulistas acabaram vendidas para a rede paulista Cybelar. Apesar de todos os desafios, nunca pensou em pendurar as chuteiras. Dizia não ter temperamento para ser aposentado e garantia que só iria se aposentar quando morresse. Não sossegava nem nas férias.
A entrevista à Rádio Gaúcha por telefone, em 2016, concedeu quando estava na praia e fez questão de registrar:
— Ficar aqui (na praia) é um sacrifício. Estou louco para chegar em casa e voltar ao trabalho.
Assim como outros criadores de impérios empresariais da Serra, como Paulo Bellini e Raul Randon, também já falecidos, que transformaram infâncias humildes em cases de superação, Adelino apreciava compartilhar histórias, dar conselhos a jovens e mostrar que com trabalho árduo e driblando adversidades é possível vencer dificuldades e inspirar. Quando convidado a dar testemunho em bate-papos organizados por entidades de classe, órgãos e universidades, dificilmente se furtava. Sem exigência, nem cachê, preferia dizer que iria "dividir" histórias.
"Alergia" impedia procura por sócios
Enquanto os grandes concorrentes varejistas corriam à bolsa em busca de capital para expandir os negócios, o empresário gaúcho sempre insistiu em crescer com as próprias pernas. O motivo da recusa em abrir o capital da empresa para investidores, era bastante peculiar: Adelino dizia ter verdadeira "coceira" a sócios. Fazia questão de seguir sozinho para "não ter que dar explicação para ninguém".
Líder na região sul do país, a Colombo se tornou uma marca bastante cobiçada no mercado varejista. Parcerias com as mexicanas Coppel e Elektra chegaram a ser desenhadas, mas ambas redes desistiram depois da insistência do gaúcho em continuar como sócio majoritário na sociedade. As propostas mais recentes Adelino garantia nem escutar.
Em entrevista concedida a Zero Hora, em julho de 2014, o empresário afirmou que sua intenção era capacitar os descendentes para se tornarem acionistas da empresa e que esperava que a Colombo não saísse das mãos da família.
— Sempre falo para os meus filhos: a empresa é a vaca, não queiram comê-la. Vamos nos contentar com o leite.