Quando Josep Piqué comunicou à família que viria ao Brasil, pela primeira vez desde que o coronavírus virou a vida de todos de cabeça para baixo, ouviu uma pergunta cautelosa: será que era o melhor momento, dada a situação da pandemia no país?
— Tenho de ir para dar uma mensagem de esperança, confiança e apoio — respondeu o catalão, especialista em revitalização urbana e consultor do projeto Pacto Alegre, que une prefeitura, PUCRS, UFRGS e Unisinos, além de várias empresas.
Nesta quarta-feira (1º), Piqué teve ele mesmo uma mensagem de "esperança, confiança e apoio" ao rever o Instituto Caldeira, que havia visitado há três anos. O antigo prédio da indústria de um setor quase extinto no Estado deu lugar a um centro movimentado de inovação e tecnologia.
O que mudou desde sua última visita a Porto Alegre?
O tempo mostrou que o Pacto é um dos melhores mecanismos para articular o ecossistema de inovação da cidade. O mundo da covid trouxe uma situação de desafio e foi uma oportunidade para demonstrar que o Pacto tinha muito sentido. A inovação tem sentido quando há um desafio. Nesse período, pusemos à prova a noção de que o Pacto, com administração pública, universidades e empresas, pode responder. Permite priorizar desafios conjunturais, como este, e os estruturais, que passam pelo desenvolvimento do ecossistema. Estive no Caldeira em 2018, só havia um prédio antigo. Com diferentes empresários que estão impulsionando, três anos depois está transformado, cheio da nova economia e de propostas de inovação. Isso tangibiliza que é possível transformar a realidade. Agora é um edifício renovado e com investidores estimulando e comprando startups.
A pandemia acentuou a pressão por inovação?
A pandemia chega em um momento em que já havia muitas tecnologias disponíveis. O que fez foi acelerar a adoção. Foi necessária, por exemplo, na mudança da organização das empresas, com a implantação do teletrabalho, ou trabalho híbrido. Também houve uma grande transformação nas organizações. As que estavam mais digitalizadas também foram mais resilientes. E também houve mudanças na relação com clientes, usuários e cidadãos. Também evoluiu a criação de novos produtos, que passou a envolver empresas de diferentes tecnologias. Agora, precisamos nos preparar para o pós-covid. Não vamos voltar para o mundo que existia antes. Incorporamos novas culturas, novas formas de fazer tudo, mais digitais. Vamos seguir avançando no uso da tecnologia, não só na nuvem. O mundo do futuro será híbrido. Todo evento será híbrido por natureza. Vamos viver na nuvem, mas vamos trabalhar e viver também em certos lugares na terra.