Depois de três calibragens de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, a tese dominante no mercado é um aumento de intensidade na graduação na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa nesta terça-feira (3).
O principal fator da convergências das apostas em um degrau a mais é o que os brasileiros sentem no bolso: a aceleração da inflação. Portanto, não haverá grande surpresa se o juro básico saltar de 4,25% para 5,25% ao ano na conclusão do encontro do Banco Central (BC) na quarta-feira (4).
— O processo inflacionário está disseminado e choque de preços não se mostra mais como um processo temporário, o que poderá requerer um aperto mais intenso do que o esperado. Diante desse cenário, mais elevações nas próximas reuniões do Copom devem ocorrer — afirma o superintendente da assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Pinheiro de Souza Gonçalves
Além da pressão inflacionária, há outro elemento que deixa o Copom "à vontade" para elevar mais a taxa básica: a consolidação da recuperação de economia, ao menos na média. É um processo ainda muito irregular e de sustentabilidade discutível, porque o aumento de custos e escassez de insumos afligem boa parte do setor produtivo. Mas depois de uma alta de 5% no PIB de 2021 virar consenso, as projeções voltaram a subir, aproximando-se de 6%.
Outra fonte de pressão sobre o Copom na decisão de quarta-feira (4) é a incerteza elevada na economia brasileira, tanto nas questões relacionadas ao controle da pandemia quanto na direção da política econômica, com a agora visível perda de poder do ministro da Economia, Paulo Guedes.
O ex-posto Ipiranga já perdeu um naco de seu superministério com a entrega da área de Trabalho e Previdência para Onyx Lorenzoni, e há especulações de que possa ser obrigado a enfrentar novo desmembramento, com a passagem do Ministério do Planejamento, com definições sobre o orçamento, para o Centrão. Com isso, as medidas econômicas ficariam ainda mais atreladas à disputa eleitoral de 2022.
Com esses três vértices — inflação, recuperação e incerteza —, o mercado também já especula nova alta de 1 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em 21 e 22 de setembro. Alguns bancos que não costumam ser ousados nas projeções, como o UBS, já projetam que o ano pode terminar com a Selic em 8%, bem acima da média anterior, ao redor de 6,5%, considerado o "nível neutro", ou seja, nem "estimulativo", como era até há pouco, nem "contracionista", que busca frear a atividade para segurar a inflação.