Os brasileiros já sabem que não podem confiar em "trajetória" do dólar, certo? Mal deu para sonhar com a acomodação da moeda americana abaixo do patamar de R$ 5, a cotação voltou a subir e não parou mais.
Mesmo assim, o cálculo do IGP-DI de junho trouxe ótimas notícias: a redução de preços de dois vilões da inflação: o minério de ferro, que havia saltado 17,03% em maio, baixou 3,85%, a soja, que subira 0,63%, caiu 8,12%, e o milho em grão virou de +5,09% para -8,75%.
Como resultado, o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) variou apenas 0,11% em junho, depois do salto de 3,40% em maio. Assim, o indicador de inflação acumula alta de 14,26% no ano e de 34,53% em 12 meses. Ainda é um absurdo, porque até junho de 2020, o acumulado em 12 meses era de 7,84%, quatro vezes menos. Mas subiu menos.
— Todas as grandes commodities mostraram taxa negativa, é um pouco do reflexo do recuo dos preços em dólares. Quando a gente analisa a cotação internacional desse itens, vê que a tendência é de queda. Somado a isso, ainda houve pequena valorização do real no mês passado. A gente tem dúvida se vai continuar, ontem fechou a R$ 5,20. Mas a tendência de queda no mercado internacional deve continuar — disse à coluna André Braz, coordenador de índices de preços da FGV.
Assim que o câmbio baixou, a coluna perguntou a Braz se o efeito não chegaria aos preços, e o economista recomendou cautela, porque era pouco para a alta nas cotações em dólares. Agora, começaram a aparecer. Segundo Braz, ao longo do segundo semestre, a série dos IGPs devem ter altas mais comportadas, mas não "isentas de volatilidade".
Os IGPs são uma espécie de precursores do IPCA, o índice oficial de inflação (veja detalhes abaixo). No ano passado, a alta do arroz, do óleo de soja e de outros alimentos, apareceu antes nos IGPs, para só depois inflar o IPCA. O economista lembra que, em julho, houve aumento na energia, na gasolina e no diesel, que influenciam muito o índice de preços ao produtor:
— Então, a gente pode ter um julho mais inflado do que junho, pondo em xeque a tendência de desacelerações. Mas em 12 meses, vai ser difícil ter taxas que superem as de igual período de 2020. A tendência é de desaceleração ao longo do ano, o que vai ficar visível no acumulado em 12 meses.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.