Na terça-feira (1º), o dólar fechou com a cotação mais baixa do ano, de R$ 5,146. Nesta quarta-feira (2), faltou pouco para quebrar a barreira dos R$ 5 — com nova queda de 1,2%, fechou cotado a R$ 5,084.
Então, se a alta do dólar foi um dos fatores da pressão que fez com que a inflação oficial encostasse em 7% em um ano e a mais relacionada ao câmbio chegasse perto dos 40%, também em 12 meses, por que agora os produtos não ficam mais baratos?
— O preço do dólar já caiu 12% (entre a cotação mais alta do ano e a atual), mas os alimentos e o petróleo não repercutiram esse movimento com baixa equivalente. Há perspectivas de que o real se aprecie mais, mas é preciso que essa situação se reflita nos preços — pondera Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.
A coluna foi perguntar a André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), por que os preços não cedem com o alívio nas verdinhas:
— É porque não existe só o efeito do dólar. O câmbio explica uma parte dos movimentos, mas não tudo. É verdade que, se o real continuar com essa trajetória de valorização, a gente vai ver, primeiro, aumentos menores. Mas além do câmbio, o que tem sustentado a inflação alta é o aumento do preço das commodities (matérias-primas básicas) em dólar. Então, não adianta o real se valorizar se o preço de dólar de grãos e do minério de ferro continua subindo. Em maio, o minério de ferro teve a maior alta, passou de US$ 200 por tonelada.
A coluna insistiu se ao menos "a parte do dólar" não deveria ceder, e Braz desenhou:
— A nossa valorização foi menor do que o aumento do preço em dólares. Então, o saldo é de aumento. Dada a valorização recente do real, a inflação está um pouco menor, teria um aumento ainda maior se não fosse isso. Para baixar, precisa que o preço em dólares fique estável e o dólar ceda.
É fato que o mundo inteiro comenta o novo "superciclo das commodities", o que em bom português quer dizer alta generalizada e duradoura de matérias-primas básicas minerais —ferro, petróleo, cobre — e agrícolas — soja, milho, trigo. Foi esse fenômeno, no final da primeira década dos anos 2000, que construiu as condições para o Brasil ter índices de crescimento recordes e inflação controlada. Será que será diferente desta vez?