No início do ano passado, a coluna registrava o que, na época, era uma aquisição ousada: a da Two Taxi Aereo, dona da marca TwoFlex, que prestava serviços à Gol, pela concorrente Azul.
Mas ousado, mesmo, é o movimento que faz saltar acima de 10% o preço das ações da Azul nesta quarta-feira (26): a especulação de que a nova compra seja a da Latam.
A companhia que resultou da "fusão" (entre aspas porque, na verdade, foi uma compra) entre a chilena Lan e da brasileira TAM está em recuperação judicial em Nova York, tanto da parte internacional quanto da nacional.
Esse é, ao mesmo tempo, um facilitador e um complicador do negócio. Se o alvo de eventual aquisição está com problemas financeiros, em tese a compra seria facilitada. Mas há complexidades jurídicas que envolvem a transação de uma companhia protegida pela chamada Chapter 11, lei americana que dá prazo para empresas se reorganizarem financeiramente, equivalente à recuperação judicial no Brasil.
Uma das dificuldades, além das jurídico-burocráticas, seria o fato de a aceitação de uma eventual oferta teria de passar não só pelos sócios chilenos e brasileiros, mas também por credores no Chile, no Brasil e nos Estados Unidos, sem contar o juiz do caso. Outro nó a desfazer envolve o interesse de companhias estrangeiras que têm participação nas duas empresas, como Delta e Qatar na Latam e United Airlines na Azul.
Mesmo com vários obstáculos a superar, a especulação tem base: em fato relevante enviado na segunda-feira (24) ao mercado, a Azul comunicava uma "possível consolidação" ao comentar o fim das operações compartilhadas (code share) com a Latam. A companhia fundada por David Neeleman afirma ver a "consolidação como uma parte importante da resposta da indústria no pós-pandemia" e que está em "forte posição para liderar essa consolidaão". Detalha, ainda, que contratou consultores para "explorar ativamente as oportunidades na região".
Ex-conselheiro do Conselho Administrativo da Defesa da Concorrência (Cade), Arthur Barrionuevo apontou outro complicador à coluna: o mercado da avião é muito determinado pela ocupação de slots (espaço/tempo reservado a pousos e decolagem de cada empresa) nos aeroportos. Um eventual acordo entre duas das maiores detentores desses slots no Brasil provavelmente levaria a uma recomendação de desinvestimento por parte do Cade e também da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A pandemia afetou duramente as companhias aéreas, e momentos de crise como o atual costumam abrir espaço para a fusões e aquisições. Pela alta das ações da Azul, investidores veem mais do que nuvens na especulação sobre um possível negócio. Faltando poucos minutos para o fechamento do mercado, os papéis decolam 11%.