Uma das frases do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em seu depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (19) foi, literalmente, curta e grossa: "Missão cumprida".
Foi a resposta cortante à pergunta do relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre o motivo de sua saída do ministério. A inesperada arrogância do general, que foi sem uniforme mas não perdeu a pose, foi abreviada por um mal-estar atribuído pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) a uma "síncope vasovagal". Pazuello não cumpriu a missão do dia.
Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou mais tarde que a decisão de interromper a sessão não se deveu à síncope de Pazuello, mas ao fato de haver mais 23 senadores inscritos para perguntar. Pode ter sido gentil, apesar de ter se exasperado com as longas evasivas do ex-ministro, que havia surpreendido por não usar o habeas corpus que permitia não produzir provas contra si mesmo.
Seja qual for o motivo, é difícil encontrar um brasileiro fora dos círculos mais estreitos do bolsonarismo — e até dentro — que concorde que Pazuello cumpriu sua missão à frente do ministério. Quando assumiu, o país tinha 14.817 mortos por covid-19. Quando saiu, o saldo das perdas havia chegado a 279.286. A assertividade do general contrastou com um relator com dificuldades de sair do roteiro e de confrontar respostas obviamente inverídicas.
O caso mais clamoroso foi quando Pazuello afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não deu ordem de voltar atrás na compra da Coronavac. Como todo brasileiro minimamente informado já assistiu à cena em vídeo, o senador precisaria ter devolvido um "se não houve pressão, porque Vossa Excelência anunciou e recuou?". Na época, Bolsonaro disse:
— Eu sou militar, o Pazuello também o é, e nós sabemos que quando um chefe decide, o subordinado cumpre. Ele, no meu entender, houve uma certa precipitação em assinar esse protocolo. É uma decisão tão importante, e eu deveria ser informado. Conversei há pouco no zap com o Pazuello, sem problema nenhum, meu amigo de muito tempo, ele continuará ministro.
Pazuello tentou contrariar até pontos já confirmados pelo ex-secretário da Comunicação, Fábio Wajngarten, pelo ex-ministro Ernesto Araújo e pelo representante da Pfizer Carlos Murillo: que o governo brasileiro ignorou sucessivas ofertas da farmacêutica e que o preço da fórmula desenvolvida pela parceira BioNTech não foi obstáculo para a negociação.
Para justificar a demora, insistiu nas cláusulas "assombrosas" e "complicadíssimas" do contrato que, como Murillo já relatou, eram iguais para todos os 110 países com os quais a vacina já foi negociada. Mencionou a existência de cinco e listou seis: exigência de garantia de ativos no Exterior, isenção completa da Pfizer por efeitos colaterais, Nova York como foro de eventuais disputas jurídicas, pagamento adiantado, assinatura de Bolsonaro no contrato, sem multas por atraso.