Organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Cúpula do Clima semeou novos debates sobre responsabilidade ambiental e seus impactos na economia. No país, uma das entidades que se manifestaram a respeito do tema foi o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Em nota divulgada na quinta-feira (22), o instituto afirma que "o que falta ao Brasil neste momento é a consciência plena do seu papel no combate ao aquecimento global". Para analisar oportunidades e riscos associados ao meio ambiente, a coluna conversou com o economista do Iedi Rafael Cagnin. Veja os principais trechos.
A cúpula deixa qual mensagem para o Brasil?
São duas. A primeira é que existe um problema que precisa ser enfrentado agora. Não dá para negar que alguma coisa precisa ser feita no front ambiental. O segundo ponto é a existência de uma oportunidade.
Qual?
O país que encara essa questão de forma inteligente vê a transição verde como oportunidade de desenvolver tecnologias, fortalecer seus negócios e suas empresas, além de associar o tema à redução de problemas sociais. Na saída da pandemia, os países inteligentes devem costurar programas de política econômica que vinculem o crescimento mais acelerado com um crescimento mais limpo, mais sustentável.
Há uma agenda conjuntural com uma transformação estrutural de longo prazo. É isso que vai assegurar a competitividade desses países nas áreas industrial, agrícola e energética, entre outras. Do ponto de vista global, é uma discussão já atrasada. Dada a pandemia, este é o momento crucial para os países tomarem posições. E o Brasil deixa a desejar há muitos anos.
Por quê?
Porque não assume esse papel em que naturalmente estaria bem colocado, pela matriz energética mais limpa do que a de outros países ou pela biodiversidade. Estamos em uma posição privilegiada para levar a discussão ao cenário mundial. Agora, essa posição não pode virar uma zona de conforto. A gente precisa acompanhar o ritmo de desenvolvimento de outros países na área ambiental. O tema ambiental é fundamental para a gente fortalecer nossas competências industriais e produtivas. Políticas públicas precisam incorporar essa preocupação.
A indústria brasileira está em qual estágio da transição verde?
Tem muito a avançar ainda. Evidentemente, existem grandes empresas que estão fazendo esse movimento há algum tempo. De forma geral, por enquanto, existe mais discurso do que situações concretas. Mas, veja, há uma crise econômica muito aguda no Brasil. A indústria sofreu perdas recordes entre 2014 e 2016, teve recuperação pífia em 2017 e 2018, registrou perda na produção em 2019, e houve cataclismo no ano passado. Então, as condições dos últimos anos não ajudam a investir.
Precisamos de uma recuperação mais sólida para reduzir o endividamento das empresas e gerar lucros que viabilizem o investimento futuro. Não há transição verde sem investimento. Se criarmos esse ambiente, as empresas terão a noção de que precisam caminhar nessa direção. O mercado internacional exige, e o doméstico também reconhece. O aquecimento global já está ocorrendo. Ou se toma decisões já ou não vai adiantar acordar para o problema em cima da hora.