A história do jovem de 17 anos que chegou de Kombi a um hotel de luxo recém-aberto em Porto Alegre em 2006 poderia ter sido apenas uma porta aberta, mas se consolida como caso exemplar de mobilidade social ainda rara no Brasil: depois de atuar como porteiro e ter ascendido à gerência de recepção na rede Sheraton, Eduardo Finamor se prepara para cumprir um sonho: ser gerente-geral de um hotel-butique em Blumenau (SC), o Villa do Vale (veja imagens abaixo).
É uma trajetória acompanhada agora há 15 anos pela jornalista que assina esta coluna. A mais recente publicação, no final de 2018, havia nascido de um encontro que coincidira com a mais recente promoção do menino indicado para a oportunidade de, literalmente, abrir portas, levado pela ONG Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto, que ainda administra o centro de triagem de lixo reciclável na Vila Bom Jesus.
Desta vez, não houve acaso. Finamor avisou sobre o próximo degrau que vai galgar em sua evolução profissional, entusiasmado com a nova oportunidade surgida em um momento especialmente difícil para o mercado de trabalho em geral e para o setor de hospedagem especificamente.
– Não estava procurando outro lugar para trabalhar. Um amigo que trabalhou no Sheraton há muito tempo passou por esse hotel de Blumenau soube que queriam um gerente-geral e achou que eu tinha o perfil que buscavam. Saí lá da Bom Jesus com 18 anos e sigo minha trajetória.
Depois de entrevistas com os proprietários e a consultora de recursos humanos, o profissional foi contratado e deve estrear nas novas funções até o final deste mês. Antes, vai fazer uma imersão no Colline de France, em Gramado, que chama de "o Santo Graal dos hotéis-butique". Sabe que seu aprendizado na rede internacional foi essencial para esse avanço:
– Tenho sentimento de gratidão por tudo o que o Sheraton me proporcionou por 15 anos. Já disse, e é ainda mais verdade, que sou fruto das apostas das pessoas do hotel. Sair é um baque grande, para os dois lados, não estava previsto nem pelo hotel, nem para mim, mas é o momento de cortar o cordão umbilical.
Antes da decisão final, Finamor foi convidado pelos proprietários para conhecer o hotel, reformado e reaberto no final do ano passado. Ficou impressionado:
– É lindo, está novo e os detalhes são incríveis. Já comecei a me apaixonar pelo hotel antes mesmo da proposta. A posição de gerente-geral que abre opções diferenciadas e acho que vou contribuir para Valle e para minha carreira.
Se o Sheraton já era luxuoso para os padrões do menino da Vila Bom Jesus, recrutado ainda na fase de implantação da rede em Porto Alegre, os requintes do Villa do Vale são o símbolo da nova etapa profissional. Antes de negociar, Finamor conta ter informado seu gestor, o gerente-geral do Sheraton Porto Alegre, Alejandro Irazábal, uruguaio de nascimento.
– Ele ficou feliz por mim, tivemos uma conversa incrível. Ele me desenvolveu muito, me preparou para este momento. Sempre dá medo do novo, cheguei a perder o sono. Ele me deixou confiante ao dizer que eu tinha capacidade para esse desafio. Fez um check list das coisas da quais tenho de me inteirar sendo gerente-geral. E todos os dias me dá uma dica nova, que anoto em um caderno. É um mentor no trabalho e na vida. Eu sou uma árvore que ele regou. Enfrentar um novo desafio, em uma cidade nova, vai me fazer crescer.
No meio da conversa com a coluna, Finamor usa uma expressão típica de quem fala espanhol: diz a palavra "nada" solta, como um "né" em português informal, como para encerrar um assunto. Perguntado se era influência do gerente-geral uruguaio, confessa:
– No hotel, sou chamado de Alejandrinho, porque me espelho muito nele.
Não basta abrir uma porta, é a lição da bem-sucedida trajetória de Finamor. É preciso apostar e regar de forma contínua para que dê frutos duradouros.
Como é o hotel que Eduardo Finamor vai gerenciar