Outro sintoma da polêmica forma de reajuste dos combustíveis está na disparada de preços do gás de cozinha, também conhecido como GLP (de gás liquefeito de petróleo).
Ainda em janeiro, Alexandre Borjaili, presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), havia projetado que o botijão de 13 quilos poderia chegar a R$ 200. A coluna registrou e foi cobrada pelos leitores: como assim, vai mais do que dobrar de preço?
Na mais recente pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), concluída no dia 6 de fevereiro, o preço médio do botijão era de R$ 77,93, com mínimo de R$ 60 e máximo de R$ 105. Então, dado número 1: já tem botijão sendo vendido com preço de três dígitos no Brasil. No Estado, há uma curiosidade: a média é ligeiramente menor (R$ 75,17), mas o mínimo é mais alto (R$ 65) e o máximo mais baixo (R$ 88).
Ao ouvir a pergunta dos leitores repassada pela coluna, Borjaili não escondeu o jogo: a Asmirg-BR está, sim, aconselhando os revendedores a repassar os aumentos represados durante a pandemia, que também afetaram o gás natural.
– O que o revendedor fez até o final de 2020 foi só repassar os aumentos da Petrobras, mas muitas revendas estão quebrando. Por isso, estamos orientando que reavaliem custos e refaçam as contas. Não são o governo federal para poder agir de forma da controlar preços. Não são responsáveis por isso. Por isso, têm de decidir, ou reveem todos os custos ou não repassam e vão quebrar mais rapidamente – admitiu.
Como é uma recomendação que não costuma ser feita publicamente, a coluna quis saber o motivo da exasperação. Borjaili relatou que em seus contatos frequentes com revendedores, "não tem um que esteja acreditando no futuro do setor". Ainda reclama que a ANP, à qual cabe fiscalizar e regular o mercado, "fica no muro atendendo ao interesse dos distribuidores". Pondera que não dá para vender gás por R$ 70 se já está custando R$ 80, somados os custos do combustível e os da operação de revenda. Por isso, adverte:
– O petróleo está subindo uma vez ao mês. Primeiro, vem o aumento nas refinarias, sobe o valor cobrado pelas distribuidoras, depois sobe o preço de base para o ICMS. Agregue-se a isso o custo de entrega, que cresce porque precisa cobrir as reajustes do combustível. O botijão já está em R$ 100, para R$ 150 é um pulo, pode chegar a R$ 200 se nada for feito.
Do ponto de vista dos revendedores, haveria duas saídas. Uma seria o tabelamento de preços, começando na refinaria até o revendedor, mas Borjaili sabe que é pouco provável. A alternativa seria abrir o mercado, que ficou ainda mais concentrado com a venda da Liquigás, antes pertencente à Petrobras. Diz que a compra de gás no Exterior poderia ser uma opção. E diz que, enquanto não surge uma solução estrutural, a Asmirg-BR está buscando alternativas:
– Fomos buscar na ONU informações sobre fontes de energia para países de terceiro mundo e encontramos um fogareiro, feito na Suécia, que usa etanol com uma pequena mistura. Estamos estudando lançar no Brasil. Aqui, quando o pobre recebe salário, compra um botijão. Mas se termina antes do fim do mês, não tem mais dinheiro. Aí, tem gente que usa latinha de comida cortada e queima álcool para cozinhar. Com o fogareiro, com uns R$ 2, compra 400 ml, que dá para cozinhar por duas a três horas. Não é para substituir o GLP, mas para fazer, com segurança, um arroz, um macarrão, enquanto não vem o salário. O fogareiro tem um reservatório de etanol que pode ser virado de cabeça para baixo e não cai uma gota. Agora, esse também é o papel da revenda de GLP, ajudar a arrumar soluções.
E sugeriu que a coluna visse o vídeo do equipamento, compartilhado abaixo com os leitores.