Movimentos que vão dos Estados Unidos ao Brasil estão colocando em xeque os mecanismos de controle das bolsas de valores. Grupos de pequenos investidores se articularam para, em tese, constranger fundos e mesmo grandes especuladores manipulem o valor das ações.
Só que, ao convocar que grandes contingentes combinem movimentos, correm o risco de produzir resultado semelhante. E em um momento de forte aumento da participação de investidores pessoas físicas na bolsa brasileiras, é ainda mais essencial ter regulação clara para dar segurança a essa migração.
Em Nova York, uma rede de lojas que vende videogames e consoles, a GameStop, enfrenta dificuldades ante a concorrência dos produtos digitais. Mesmo assim, suas ações subiram cerca de 700% nestes primeiros 28 dias de janeiro. Nesta quinta-feira (28), porém, entraram em queda livre, acima de 50%, obrigando até a interrupção das negociações.
A origem foi um movimento de pequenos investidores que operam a partir de aplicativos para comprar os papéis da empresa, forçando a valorização. O objetivo seria barrar a atuação de fundos e "tubarões", gíria para grandes investidores, que operavam a descoberto.
E o que é isso? Nas bolsas, além de comprar e vender, é possível alugar ações. Com a titularidade temporária do papel, o especulador o vende e age para derrubar seu valor, para que esteja mais baixo na hora de comprar de fato para entregar. Esse tipo de atividade é retratado no filme A Grande Aposta (imprescindível para quem entrou na bolsa nos últimos meses).
No Brasil, surgiu uma tentativa de repetir o caso da GameStop com ações do IRB (antes Instituto de Resseguros do Brasil). Grupos se articularam em uma rede social convocando um "big squeeze", ou seja, um movimento para forçar o desmonte das tais operações a descoberto. A empresa já havia sido alvo de especulações no ano passado. Iniciada na véspera, a iniciativa segue produzindo efeitos: nesta quinta-feira (28), as ações subiram 18%. Como se trata de um movimento combinado, também é uma forma de especulação.
É complicado, mas é importante conhecer esses mecanismos, especialmente quando o excesso de liquidez e a falta de alternativas de aplicações rentáveis e seguras diante da queda do juro empurram pessoas físicas para a bolsa. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) já alertou para a "desconexão" entre os mercados que apostam em uma reativação e na renovação dos pacotes de estímulo e a realidade de uma economia mundial ainda muito abalada pela pandemia.