O FMI advertiu nesta quarta-feira (27) que existe uma "desconexão" entre os mercados que apostam em uma reativação e no apoio econômico contínuo dos governos e a realidade de uma economia mundial ainda muito abalada pela pandemia. De acordo com o relatório de Estabilidade Financeira Global da instituição, os investidores podem ter se tornado complacentes demais com as condições financeiras, o que cria o risco de uma correção nos mercados, e as autoridades devem se manter vigilantes para problemas em potencial.
— Os riscos para a estabilidade financeira estão sob controle, mas não podemos tomar isto como certo — informou Tobias Adrian, conselheiro financeiro do FMI. Isso por que os mercados estão apostando na continuidade das políticas estatais de estímulo à economia, mas a desconexão entre "mercados financeiros exuberantes", como ações nas Bolsas de Valores, e uma recuperação econômica, mostram que talvez correções sejam necessárias. Adrian, entretanto, defendeu a manutenção das políticas de estímulos.
No ano passado, em plena pandemia, o S&P 500 subiu 42% em Wall Street. A Amazon subiu 76%; a Apple, 82%; e o Facebook, 33%.
Incertezas
O FMI atualizou nesta terça-feira seu relatório de "Perspectivas Econômicas Mundiais" (WEO, na sigla em inglês) com uma melhora das projeções para a economia em 2021, prevendo uma expansão da economia global de 5,5%.
Esta melhora se deve às expectativas de que a vacinação possa mudar o rumo da pandemia e às ajudas maciças lançadas por muitos governos. Mas o FMI também advertiu que existe uma "incerteza excepcional" sobre estes prognósticos. A entidade destacou que "os mercados financeiros miraram para além do repique mundial de casos de covid-19".
Os economistas que assinam o relatório destacaram ser necessário prestar atenção às "vulnerabilidades" como um aumento da dívida das empresas, a fragilidade de empresas do setor financeiro não bancário, um aumento da dívida soberana e a baixa rentabilidade de alguns bancos. Eles advertiram ser "provável que o acesso às vacinas seja desigual" e destacaram que um atraso no acesso a serviços integrais de saúde poderia "impedir uma recuperação mundial completa e pôr em risco o sistema financeiro".
Neste sentido, lembraram que os países emergentes, no período de 2017 a 2019, representaram 65% do crescimento mundial e 40%, excluindo-se a China.
No relatório, os funcionários do FMI lembraram que as necessidades de financiamento dos mercados emergentes são "consideráveis" e que uma recuperação desigual e parcial pode fazer perigar a "solidez do sistema financeiro".