Se o segundo trimestre foi um pesadelo, com a estiagem agravando o impacto do coronavírus sobre a economia gaúcha, o período entre julho e setembro foi de sonho, ao menos no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul. Quase completou o desenho do tão ambicionado V.
Infelizmente, será preciso acordar do salto de 12,9% na comparação com o período imediatamente anterior. De um lado, não conseguiu repor a perda de 13,7% no trimestre anterior, mas chegou bem perto. De outro, o trimestre ficou 4,1% abaixo de igual período em 2019, e os primeiros nove meses do ano ainda acumulam perda de 8,6% em relação a igual período de 2019.
Apesar de algumas surpresas, como o salto de 39,4% na agropecuária em um período com pouca produção no campo, o PIB traduz um período marcado por inesperados resultados recordes em empresas tão diferentes quanto a Randon, que teve seu melhor desempenho trimestral da história, e da Xalingo, de Santa Cruz, que teve seu melhor setembro em 73 anos.
A indústria teve alta de 19,7% na comparação com trimestre anterior. Foi uma reação mais robusta do que a nacional, de 14,8% na mesma base de comparação. Esse resultado deve muito à assombrosa alta de 44,1% no subsetor eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. Martinho Lazzari, pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) que apresentou os dados, explicou que isso se deve ao fim da estiagem, que permitiu a volta da geração de energia nas hidrelétricas do Estado.
Apesar da maior alta setorial, de 39,4%, o setor agropecuário tem pouco peso no PIB do terceiro trimestre. A agricultura representa menos de 1% da produção gaúcha no período, segundo o técnico, então o resultado é devido à pecuária, que teve desempenho melhor, e à dissipação do efeito da estiagem.
– É uma recuperação forte, mas parcial e incompleta. não recupera as perdas de 2020 nem volta ao patamar do final de 2019. Mas é um início de recuperação importante – descreveu Lazzari.
Nas projeções feitas por entidades empresariais ao longo da semana (veja quadro no final do texto), as estimativas para o crescimento do PIB gaúcho em 2021 variaram de 4% a pouco mais de 8%. Pedro Zuanazzi, diretor do DEE, ponderou que uma das variáveis a serem consideradas é a situação da pandemia:
– A vacina pode chegar mais rápido do que se imagina e imunizar parte da população, mas podemos ter maior lotação de hospitais. São efeitos importantes que dificultam essa projeção.
Lazzari acrescentou que também vai depender da estiagem. Se for mais ou menos intensa, pode variar entre 4% e 8%.
Fontes: área econômica das entidades empresariais, Fecomércio não fez estimativa sobre queda do PIB do RS neste ano