O que vinha sendo especulado há semanas se concretizou nesta terça-feira (20), por volta do meio-dia pelo horário de Brasília. O Departamento de Justiça (DoJ, equivalente ao Ministério da Justiça no Brasil) dos Estados Unidos abriu um processo antitruste contra o Google – mais exatamente, contra a Alphabet, empresa-mãe do mecanismo de busca.
A acusação é pesada: conduta anticompetitiva para assegurar monopólio dos mecanismos de buscas e buscas associadas a publicidade. O argumento é muito semelhante ao que, três anos trás, fez a União Europeia multar a mesma empresa em 2,42 bilhões de euros (em valores atuais, cerca de R$ 16 bilhões), mas é mais abrangente.
Esperado há quase um mês, o processo é considerado pelo The Wall Street Journal, principal jornal econômico americano, a mais agressiva iniciativa legal a uma companhia dominante no setor de tecnologia em mais de duas décadas. O movimento é comparado ao que, na década de 1980, obrigou a AT&T, detentora do monopólio em telefonia, a separar e vender seus negócios.
Onze Estados – Arkansas, Flórida, Georgia, Indiana, Kentucky, Louisiana, Mississippi, Missouri, Montana, Carolina do Sul e Texas – acompanham as acusações do DoJ no processo. A empresa é acusada de prejudicar a concorrência e impedir os competidores de ter acesso ao mercado usando "acordos de exclusão" com fabricantes de aparelhos e desenvolvedores de navegadores, o que configuraria prática ilegal. A primeira reação da gigante foi pelo Twitter, em que sustenta que as pessoas usam seus mecanismos por escolha, não porque são forçadas ou não têm alternativas.
Entre especialistas, a abertura do processo antitruste é vista como a largada de um movimento mais amplo que pode atingir várias das big techs – além do Google, estão na mira Apple, Facebook e Amazon. Uma das alternativas possíveis para resolver o excesso de concentração da Alphabet seria a venda do navegador Chrome, que tem mais de um bilhão de usuários, o maior do mundo.
A solução efetiva para desafazer esse monopólio vai depender das negociações abertas ao longo do processo. O mais recente caso envolvendo big techs, no caso a Microsoft, que foi processada em 1997, chegou a um acordo em 2001 sem grandes mudanças na liderança em softwares. Apesar do processo, as ações da Alphabet subiram 1,38% no fechamento de terça-feira (20) e mantiveram a empresa com valor de mercado acima de US$ 1 trilhão.