O lançamento do sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, o Pix, gerou discussões e temores. O estudo Flavors of Fast (algo como sabores do rápido, em português), da FIS, que está na sétima edição anual, examinou 56 sistemas semelhantes no mundo.
À coluna, o porta-voz da empresa que elaborou a pesquisa, André Beller, afirmou que, com o Pix, o Brasil vai se equiparar a países que já têm plataformas consolidadas como China, Índia e Austrália:
— Independentemente do país, para a implementação de um sistema como o do Pix, é preciso estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, a transferência deve ser finalizada em menos de um minuto e tem de ser fácil de usar. Nesse sentido, o Pix está caminhando muito bem.
Sobre o fato de apenas 13% dos brasileiros saberem o que é o novo sistema, Beller afirma que é indispensável investir em educação. Além disso, pondera, a desinformação contribui para disseminar fraudes e golpes. Segundo o especialista, antes de o sistema entrar em operação, é fundamental investir em segurança de dados:
— Estamos trabalhando em um sistema que vai gerar alertas de golpes, é algo novo, que ainda não está em operação. A Austrália, que tem sistema semelhante, enfrentou desafios similares aos do Brasil, mas solucionou ainda na primeira fase, a de pagamentos domésticos.
Enquanto o Brasil ainda implementa os pagamentos instantâneos domésticos, a próxima barreira a ser quebrada é a da conexão das redes nacionais. A empresa já está desenvolvendo um projeto nos Estados Unidos:
—Não é um desafio simples, mas há grande demanda. São processos complexos, porque envolvem transações entre várias moedas.
Segundo a pesquisa, nos sistemas de pagamentos que já existem no Brasil, o volume de transações cresceu quase 50% entre maio de 2019 e abril de 2020, em relação aos 12 meses anteriores. Em média, o país registra 3,8 milhões de transações ao mês e movimenta média diária de R$ 24,2 bilhões.
Beller afirma que a pandemia acelerou esse processo. Pessoas não habituadas a realizar esse tipo de transação tiveram que se adaptar. O especialista pondera que outras formas de transferências, como DOC e TEC não vão desaparecer "do dia para a noite". Por isso, é preciso investir em tecnologia, para que suportar um novo sistema:
— É fundamental olhar para a infraestrutura de tecnologia. Teremos vários canais de pagamento coexistindo. Os outros meios de pagamento não vão desaparecer, orquestrá-los e unificá-los é um ponto importante.
Nos Estados Unidos, cerca de 130 instituições financeiras implementam pagamentos em tempo real. Os vizinhos Malásia, Cingapura e Tailândia anunciaram a intenção de fazer um sistema multimoedas entre eles. O relatório Flavors of Fast de 2020 usa dados de pagamentos em tempo real entre abril e maio de 2020.
Os pagamentos instantâneos no mundo
A Índia é líder de transações totais em tempo real, com média de 41 milhões ao dia.
A Coreia do Sul é líder per capita em transações em tempo real, com 75 operações por ano a cada cidadão.
O Bahrein é o país em que a alternativa mais cresceu em 2019, 657%.
Variação no número de transações
Bahrein 657%
Gana 488%
Filipinas 309%
Austrália 214%
Índia 213%
Polônia 208%
Aumento no valor das transações
Filipinas 482%
Bahrein 311%
Austrália 231%
Gana 222%
Fonte: Flavors of Fast
Como vai funcionar o Pix
O que é o Pix?
É um sistema para enviar e receber valores, criado para substituir as formas atuais de enviar dinheiro a alguém, como DOC e TED. Não é de uma empresa privada, mas do Banco Central, um órgão do governo. Cada um vai usar onde preferir: no banco ou em pequenas empresas de finanças, as chamadas fintechs. Vai funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana e completa a operação em até 10 segundos.
Como se usa?
A partir de 16 de novembro, vai estar funcionando nos aplicativos ou no sites bancos e fintechs. Será como fazer uma transferência, só que mais rápido, sem limite de horário e, na maioria dos casos, grátis. Serve para enviar dinheiro para a conta de um parente ou até para pagar um compra.
Precisa ter conta em banco?
Não, há várias empresas de finanças, as fintechs, que vão oferecer o serviço. Mas será necessário fazer um cadastro e ter o dinheiro depositado em uma dessas empresas para poder fazer pagamentos.
Precisa ter cadastro?
Não é obrigatório, mas ter um registro torna a operação mais rápida, porque não precisa preencher dados a cada vez que envia ou recebe dinheiro. Desde o dia 5 de outubro, bancos e fintechs estão cadastrando o que chamam de "chaves", que podem ser CPF, número do celular ou e-mail. Se a pessoa prefere não informar esses dados, pode usar uma "chave" que o app sugere, mas será daquele tipo cheio de números e letras, difícil de decorar.
Como se cadastrar?
É só entrar no site ou no aplicativo do seu banco ou de sua empresa de finanças e procurar por "Pix". Na maioria dos casos, é só seguir a ordem em que as opções aparecem, confirmando ou rejeitando a "chave" preferida. Se aparecer "CPF" e você preferir usar outra, é só recusar esta que a próxima aparece.
Tem risco de golpe?
Tem, principalmente se forem usados links recebidos para fazer o registro. Por isso, é importante entrar direto no site ou no aplicativo que você costuma usar para lidar com seu dinheiro. Depois, vai ser preciso prestar bastante atenção, porque uma das formas de enviar e receber pagamentos será o envio de links clicáveis, mas isso vai ocorrer dentro do app ou do site de internet banking.
É obrigatório?
De jeito nenhum. Se você não costuma fazer esse tipo de pagamento, pode ficar sossegado e não se estressar com o Pix. Se prefere pagar mais, mas manter as opções mais tradicionais, como DOC e TED, também não. Mas é bom ficar preparado para o fato de que há tendência de ampliação gradativa do uso desse tipo de tecnologia, com custo mais baixo.
Então por que os bancos insistem tanto que é preciso se cadastrar?
Porque um dos papéis do Pix é ajudar a democratizar o mercado bancário no Brasil. Se o cliente registra uma chave em determinada instituição financeira, presume-se que vá operar com esse banco ou fintech. Nesse momento, o interesse dos bancos é "segurar" os clientes.
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