A troca de pedidos de desculpas por parte do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, melhora o clima que andou pesado em Brasília, mas não solucionou o financiamento do Renda Cidadã.
O jantar da trégua já estava marcado quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez uma das mais duras advertências ao Brasil desde que o país trocou a dívida externa pela interna e saiu do radar da instituição como risco real e imediato.
O relatório do FMI sobre o Brasil corrigiu uma inconsistência: reduziu a previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIC) de 9,1% para 5,8%. Com exceção desse afago, passa um verdadeiro "pito". Na visão do organismo, o país enfrenta "riscos excepcionalmente altos e multifacetados". A coluna, que vê o FMI quase sempre atrasado nas análises sobre o Brasil, desta vez precisa reconhecer que está bem atualizado.
Na avaliação do Fundo, "na ausência de evidências inequívocas da manutenção do teto de gastos, qualquer despesa adicional poderia minar a confiança do mercado e elevar o juro". É o debate do momento no Brasil. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, admitiu na semana passada que será preciso elevar a taxa básica se o governo abrir mão do "arcabouço vigente" – expressão em dialeto banco-centralês para o teto de gastos.
Especialistas já consideram a Selic atual abaixo da adequada para rolar a dívida brasileira. A dificuldade do Tesouro de colocar títulos de longo prazo no mercado já fez com que o prazo do endividamento encurtasse. Um quarto dos compromissos, que equivalem a cerca de R$ 1 trilhão, vence em 12 meses.
Era nessa situação que o governo ensaiava criar um programa social baseado, na prática, em mais endividamento e no descumprimento de determinação judicial. Na noite de segunda-feira (5), Guedes voltou a citar a revisão dos 27 programas sociais do governo federal como oportunidade de buscar espaço no orçamento para o Renda Cidadã.
A essa altura, alguém precisa desenhar para o presidente Jair Bolsonaro em que cenário ocorre essa tomada de decisão. Na manhã desta terça-feira (6), os juros futuros,que balizam taxas de financiamento para empresas, recuavam com o alívio da trégua entre Guedes e Maia. Mas se mantém a aposta em alta na Selic ainda neste ano. É melhor que a trégua produza resultados mais tangíveis do que pedidos de desculpas.