A rede gaúcha de farmácias Panvel vendeu ações no mercado e captou R$ 1,08 bilhão em julho. Com esse reforço, disse à coluna seu presidente, Julio Ricardo Mottin Neto, "está na hora de crescer mais rápido". O plano de abrir 65 lojas ao ano a partir de 2021 vem acompanhado da aceleração na inauguração de pontos de venda focados na classe C, com todas as características da marca, mas com mais ações promocionais. Mottin não esconde que a pandemia abalou as vendas da rede, mas afirma que julho já teve reação, com alta de 4,5% na comparação com o mesmo mês de 2019. Destaca que a empresa já oferece soluções digitais com consulta por telemedicina e receita eletrônica e vê espaço para um marketplace (endereço virtual que concentra várias atividades de empresas diferentes) de saúde. Também tem esperança que a vacina contra a covid-19 esteja disponível até o fim do primeiro trimestre de 2021.
Quais são os planos de investimento da Panvel depois de captar R$ 1 bilhão?
Fizemos um follow on (venda de ações) há dois meses, a empresa captou um valor significativo, de R$ 1,08 bilhão, metade no mercado primário, metade no secundário, que representou uma grande valorização para a Panvel, porque o negócio saiu sem desconto em relação ao benchmark, que é a DrogaRaia. A gente vai acelerar. Estávamos planejando crescimento, é um momento importante para nós. Teve uma pandemia no meio do caminho, mas vamos seguir. Estamos acima de 10% de participação de mercado em Santa Catarina e no Paraná, e temos 18% em Curitiba e 16% em Florianópolis. Só em Curitiba temos 43 lojas. É uma marca conhecida, testada e validada. Está na hora de crescer mais rápido. A partir de 2021, vamos retomar o ritmo de abertura de 65 lojas por ano na Região Sul. O plano é chegar a 800 lojas em cinco anos. Hoje temos 450 no total e 330 no Rio Grande do Sul.
Algumas dessas lojas serão focadas em renda mais baixa, projeto que estreou na pandemia?
Sim, para este ano temos mais quatro nesse formato. Em 2021, 30% das 65 novas serão para esse público. Não tem marca diferente, é uma Panvel. Não perde as características da rede, só é mais promocional, focada em público com renda classe C.
A venda por canais digitais, que representava 10% do total, saltou para 18,5%.
O foco na Região Sul significa que não haverá intensificação em São Paulo?
Em São Paulo, o foco do investimento é no digital. No Sul, o foco é em loja de rua. Vamos abrir um míni centro de distribuição, com 1,5 mil metros quadrados, que começa a operar em dezembro e vai funcionar a pleno em janeiro de 2021. É o que chamamos de darkstore, bem localizado, no bairro de Perdizes. É como se fosse uma loja, mas não está aberta ao consumidor. Mas fica muito perto das pessoas para agilizar a entrega das compras pelo e-commerce. É uma modalidade que já usamos em Porto Alegre. Vai alavancar muito as lojas em São Paulo. A venda por canais digitais, que representava 10% do total, saltou para 18,5%. Também vamos usar boa parte dos recursos para acelerar as estratégias digitais, investir em inovação e tecnologia.
O plano é seguir desenvolvendo tecnologia própria?
A Panvel ainda desenvolve em casa, com empresas parceiras. Temos o projeto Panvel Labs há um ano e acabamos de receber pitchs (apresentações rápidas) de cerca de 120 startups, afunilamos para 12 e escolhemos quatro para trabalhar em algoritmos de recomendação. É uma aplicação de inteligência artificial para facilitar vida dos consumidores, prever o comportamento. Estamos trabalhando em uma série de integrações para facilitar a vida das pessoas, investindo na integração de estoques. Hoje, das 450 lojas, 125 já fazem entregas na casa das pessoas em até duas horas. Todas as 450 estão conectadas no serviço Clique e Retire em até 30 minutos. Como percentual de vendas, temos a maior participação de vendas pelo e-commerce no Brasil. Não é a maior venda nominal, mas a maior parcela no negócio.
As lojas físicas tiveram queda bem significativa, mas já vimos a recuperação começar em junho. Em julho, a venda cresceu 4,5% sobre o mesmo mês de 2019.
Como a Panvel está passando pela pandemia?
No primeiro momento, houve forte aumento de vendas, depois veio uma grande queda. Se não fosse o e-commerce, estaria pior. No segundo trimestre, ficamos quase estáveis em vendas, tivemos queda de 1,5% em relação ao segundo trimestre de 2019. De fato, o impacto foi muito grande. Para dar uma ideia, 10% estão em shopping centers, que ficaram abertas mas sem circulação, vendendo 10% do que vendiam. Houve algumas que fecharam. Houve boa solidariedade dos shoppings e de proprietários de imóveis, que renegociaram custos. Estive no centro de Porto Alegre em abril, temos 15 lojas lá, estavam às moscas, deu uma tristeza gigantesca. As lojas físicas tiveram queda bem significativa, mas já vimos a recuperação começar em junho. Em julho, a venda cresceu 4,5% sobre o mesmo mês de 2019. Se excluir lojas de shopping, está 12% acima.
A empresa acelerou projetos digitais?
Sim, esse projeto de estoque disponível nos centros de distribuição estava previsto para 2021, trouxemos para este ano. E contratamos mais 30 pessoas para o time de TI, que tem 150. No grupo, temos 6,8 mil funcionários. Durante a pandemia, houve a liberação da telemedicina e do receituário eletrônico.
Desde maio, no site e no aplicativo da Panvel, damos acesso a redes de telemedicina. As pessoas podem marcar consulta, fazer emissão do receituário e a compra, tudo no mesmo lugar.
O que mudou para a empresa?
Ampliamos a atuação da Panvel Clinic, que já tem cem salas em farmácias, 22% da rede. Dessas, em 50 a gente aplica vacinas, as mais variadas, não só da gripe. Hoje, temos uma das maiores clínicas de vacinação da Região Sul. E como há uma tendência crescente de prevenção, isso vai ocupar espaço maior. A telemedicina resolve um grande problema do Brasil, que é o acesso em locais remotos. Desde maio, no site e no aplicativo da Panvel, damos acesso a duas redes de telemedicina, a Doutor Consulta e a Conexa, além da Vittud, com consultas psicológicas e psiquiátricas. As pessoas podem marcar consulta, fazer emissão do receituário e a compra, tudo no mesmo lugar. Estamos vendo que é possível criar um marketplace de serviços que, depois, pode ter outras verticais, como vender planos de saúde de terceiros.
Para quando considera viável uma vacina para a covid-19?
Tudo indica que será no primeiro trimestre de 2021. Quem sabe teremos uma bela notícia, de uma operação logística gigante para distribuir essa vacina. Temos a experiência da vacina da gripe, trabalhamos com público de risco, temos capacidade de fazer vacinação em alta escala. Vamos nos preparar. Acredito que as farmácias, como um todo, serão peças-chave. É o varejo que tem maior capilaridade e pode ajudar o Brasil a se vacinar. É uma possibilidade bem real.