Mais uma vez, o governo adota uma correta medida de ajuda econômica, ao permitir a liberação de R$ 1.045 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de cada trabalhador. De novo, erra no volume e na velocidade. Um salário mínimo é pouco para uma economia travada, e os primeiros saques só serão permitidos a partir de 15 de junho. Uma tentativa de explicação para o prazo é a associação do calendário do Auxílio Emergencial, que vai até maio. O FGTS viria depois.
O problema começa pelo fato de que os públicos são diferentes: o Auxílio Emergencial é para trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria, ou seja, brasileiros sem FGTS. Só tem essa conta quem trabalha com carteira de trabalho assinada. Outro argumento é a necessidade de tempo para organizar a burocracia interna da Caixa Econômica Federal, já absorvida na entrega da solução para os ainda menos assistidos.
A liberação do FGTS havia sido uma hipótese mencionada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no dia 16 de março, quando fez o primeiro ensaio de medidas de ajuda econômica. Faz quase um mês. E vai levar outros três para chegar. É muito tempo para um período de tal emergência que é difícil encontrar referência histórica. É preciso, sim, pensar no dia seguinte ao fim da quarentena, mas ainda não sabemos quando isso vai acontecer e como vão chegar lá.
Se é verdade que os trabalhadores com carteira assinada terão a proteção dos programas de redução de jornada e de salário ou até da suspensão de contrato, que preservam alguma renda, não se sabe em que velocidade será a adesão das empresas e a liberação das complementações do governo. O maior mérito da liberação do FGTS é a facilidade com que chega às mãos de quem precisa. Especialistas em programas sociais, como o diretor da FGV Social, Marcel Neri, estranhava a demora do governo em adotar a medida.
Se antes havia restrições ao uso excessivo do FGTS, por esvaziar uma fonte importante de recursos para financiamento do crédito imobiliário, ou por desincentivar uma poupança forçada aos brasileiros que não têm esse hábito, agora todas estão vendidas pela covid-19. Assim como o mantra #fiqueemcasa é crucial para manter a saúde, as palavras "imediata" e "massiva" precisam ser aplicadas na ajuda para manter a economia.