O diagnóstico não é da coluna, mas de empresários sobre seus próprios pares: a filantropia empresarial nunca foi muito disseminada no Brasil. As exceções confirmam a regra. A pandemia de coronavírus tem potencial de mudar esse cenário. A doação de R$ 1 bilhão confirmada na manhã desta segunda-feira (13) pelo Itaú Unibanco tem poder para acentuar e dar escala às iniciativas de empresas que, por consciência ou marketing, estão se associando a ações de apoio neste momento em que o Brasil hesita na forma de combate à doença por falta de liderança do presidente da República.
Será um benefício duplo se também o atualizar para padrões do século 21. Já não se trata de filantropia ou benemerência, mas de cidadania empresarial. Ou seja, contribuir com a sociedade de forma mais ampla do que gerar lucro, emprego e renda. A quantia é a maior já mobilizada, tanto que, somada essa contribuição individual, o valor total duplicou, para R$ 2,2 bilhões, conforme o Monitor de Doações Covid-19.
O maior banco privado do Brasil teve lucro de R$ 28,4 bilhões em 2019, 10,2% maior do que o registrado no ano anterior. Só no quarto trimestre, os ganhos do banco alcançaram R$ 7,3 bilhões. É fácil dizer que o banco está em situação confortável para fazer uma doação deste tamanho. Está. Mas ousou fazer um movimento fora da curva, no volume e na forma.
Além do alto valor, embute conceitos de gestão e uso das ferramentas que garantem eficiência nos negócios aplicados à atuação social. Registrou a doação em fato relevante ao mercado, forma de dar consistência, visibilidade e compromisso de cumprir a promessa ao público. Não está iniciando uma ação, mas um programa, o Todos pela Saúde. Veja bem, é um banco. E seu foco é a saúde.
O programa prevê orientação da população como campanha de incentivo ao uso de máscaras e testagem populacional e para profissionais de saúde. Também inclui apoio a Estados e grandes municípios no reforço a gabinetes de crise, no treinamento e apoio a profissionais de saúde, uso de telemedicina e ampliação da capacidade e eficiência em hospitais de referência.
Parte da vida voltará ao normal, parte nunca será como antes. Este pode ser um dos maiores aprendizados da crise. Uma pesquisa mostrou que 84,7% dos gaúchos dirigem seu afeto a empresas que demonstraram sensibilidade e solidariedade durante a pandemia. Daniel Castanho, líder de um movimento que propõe a quem puder que não demita, adverte que "vão acabar" companhias mesquinhas e sem visão do coletivo. Como disse o papa Francisco, estamos todos no mesmo barco. Só vamos nos manter à tona se todos remarem juntos e para o mesmo rumo.
Veja o comunicado oficial da doação do Itaú Unibanco
O Itaú Unibanco Holding S.A. ("Itaú Unibanco") comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral a criação da iniciativa Todos pela Saúde. A iniciativa será financiada com a doação de R$ 1 bilhão e tem o objetivo de combater o novo coronavírus e seus efeitos sobre a sociedade brasileira. Caberá a uma equipe de sete reconhecidos especialistas a definição das ações a serem financiadas por esses recursos. A atuação da Todos pela Saúde se dará por meio de quatro eixos:
Informar: orientação da população como campanha de incentivo ao uso de máscaras;
Proteger: testagem populacional e para profissionais de saúde;
Cuidar: apoio aos gestores públicos estaduais ede grandes municípios na estruturação de gabinetes de crise; capacitação e apoio aos profissionais de saúde; uso de telemedicina; ampliação da capacidade e eficiência em estruturas hospitalares referenciadas; compra e distribuição de insumos estratégicos,além da mobilização de equipamentos e recursos humanos.
Retomar: colaboração para o desenvolvimento de estratégias, visando a: retorno mais seguro às atividades sociais; e programas de monitoramento da população com risco elevado.
O Itaú Unibanco quer ser parte da solução dessa grave crise. Nesse contexto, a iniciativa Todos pela Saúde soma-se a outras já anunciadas nas últimas semanas: cerca de R$ 250 milhões que têm sido direcionados a diferentes projetos de melhoria da infraestrutura hospitalar do país, além da produção e aquisição de testes, máscaras de proteção, equipamentos de saúde, kits de higiene e de alimentos.
São Paulo - SP, 13 de abril de 2020
Alexsandro Broedel