A onda de pânico que invadiu os mercados nesta segunda-feira (16), depois que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou o juro de referência da economia americana para o intervalo de zero a 0,25% ao ano, fez o dólar disparar 4,86% e fechar, pela primeira vez, acima de R$ 5,047. Entre rumores de atuação extraordinária do Banco Central para cortar o juro básico e a espera pelas medidas prometidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o dia no mercado financeiro foi tumultuado.
Na bolsa de valores, houve necessidade de interromper os negócios em menos de meia hora e, por um triz, não ocorreu um segundo acionamento do instrumento que paralisa as operações, chamado de circuit breaker. Por volta de 15h, o Ibovespa começou a acelerar as perdas e atingiu queda superior a 14%. Caso aprofundasse o tombo mais um ponto percentual, atingindo 15%, seria necessário parar tudo por uma hora. Não foi preciso, mas a bolsa fechou o dia com profunda queda de 13,9%.
A resposta dramática dos mercados financeiros à medida do Fed provocou queda semelhante em Nova York, onde são raros tombos de dois dígitos. O indicador mais tradicional despencou 12,9%, e o mais usado, o S&P 500, desabou 11,9%. A intenção do BC dos EUA era mostrar ao mundo que tinha munição e não deixaria ocorrer novamente o que aconteceu em 2008, quando a demora na reação concatenada dos governos aprofundou a crise. No entanto, a leitura do mercado foi de que o impacto econômico do coronavírus na economia mundial é ainda mais grave do que se imaginava.
– O objetivo disso tudo é mostrar ao mercado que não vai faltar liquidez (possibilidade de transformação rápida de ativos em dinheiro vivo) e que os maiores bancos centrais não vão repetir o erro de 2008. Soltaram uma bomba de nêutron, que salva as fábricas e mata as pessoas. O recado é de que não vai faltar munição, que o Fed produz instantaneamente. Agora, pode comprar ativos, ações, qualquer coisa. Para algumas ações, o Fed precisa pedir autorização ao Congresso americano, mas diante desse quadro, vai ser fácil obter – avalia João Marcus Marinho Nunes, economista focado na atividade americana.
O que se espera das medidas a serem anunciadas pelo governo
– Alívio tributário e financiamento facilitado aos setores mais pesadamente atingidos, como o de empresas aéreas e indústria eletroeletrônica
– Uma das opções é usar recursos dos depósitos compulsórios no Banco Central como fonte desses financiamentos, exatamente para permitir maior prazo de carência (tempo entre a obtenção do dinheiro e o prazo de pagamento). Como os recursos ficam mesmo parados no BC, não haveria urgência na devolução
– Reforço na renda, especialmente de trabalhadores temporários, que dependem do crescimento da economia para garantir remuneração
– Estímulo a setores que tem capacidade de gerar muito emprego e ainda encomendas para outros segmentos, como a construção civil
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