Depois de tocar nos R$ 4,40 logo depois da abertura do mercado nesta sexta-feira (21), o dólar oscilou e parou antes dessa marca psicológica nesta véspera de um prolongado feriado de Carnaval no mercado financeiro. Fechou cotado a R$ 4,393, resultado de alta microscópica (0,036%). Ao longo do dia, chegou a baixar para o patamar de R$ 4,38, com sinais de desaceleração da economia dos Estados Unidos, mas voltou a subir no final da sessão, último dia de negociação antes da próxima quarta-feira.
Nos primeiros 50 dias do ano, a moeda americana acumula valorização de quase 10% ante o real – precisamente, 9,52%. Tanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, quanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parecem não apenas tranquilos, mas satisfeitos com a disparada. Se é verdade que o real já passou por fases de sobrevalorização artificial, nunca teve tanta torcida oficial a favor da depreciação.
Desde que Guedes anunciou que seus planos incluem "juro baixo e dólar alto" por longo tempo, o mercado vem desafiando o conceito de "alto" do ministro. Na quinta-feira (20), ao pedir desculpas às empregadas domésticas pela menção desastrosa a viagens a Disney, repetiu que, sob sua gestão, o dólar será "inquestionavelmente mais alto". O problema é o padrão de comparação: mais alto do que quando? Apesar de quebrar recordes diários, a cotação nominal de R$ 4,40 ainda corresponde a menos da metade do valor corrigido da cotação de R$ 3,99 atingida em 2002.
O problema é que dólar a R$ 4,40 não desagrada só a quem quer viajar, a Disney ou qualquer outro destino no Exterior. Dólar sobrevalorizado pesa nos preços de produtos importados, nos custos das empresas que usam insumos comprados no Exterior e nas matérias-primas que, mesmo produzidas no Brasil, têm preços ancorados na moeda americana. Ou seja, é um fator de pressão nos preços. Nem exportadores estão gostando de ver essa subida sem freio, exatamente porque parte de seus custos é em dólar. Uma alta de quase 10% começa a fazer diferença, e não é positiva.