Há 10 dias rondando acima dos R$ 4,30, a cotação do dólar comercial impacta diretamente a economia gaúcha. Nesta segunda-feira (17), fechou o dia valendo R$ 4,3295 e acumula valorização de 7,5% no ano. Em meio a esse cenário, setores exportadores do agronegócio e da indústria tendem a ganhar competitividade na hora de vender seus artigos, ao mesmo tempo que a importação de insumos se torna mais cara e pressiona os custos das empresas.
Diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante explica que a escalada do câmbio está relacionada principalmente à epidemia de coronavírus na China, que leva ao desaquecimento da economia do país asiático e afeta as perspectivas no mundo.
Além disso, a redução do juro básico a 4,25% ao ano faz com que investidores estrangeiros busquem outros mercados para aplicar os recursos, diminuindo o capital estrangeiro no Brasil. Nesse contexto, o Banco Central chegou a atuar no mercado nos últimos dias para tentar conter a desvalorização do real.
– O dólar alto veio para ficar. Se tivermos notícias animadoras em relação ao coronavírus, com diminuição de infectados e estabilidade no número de mortes, devemos ter outro patamar de câmbio e o dólar pode vir abaixo de R$ 4,30 – projeta Cavalcante.
Em tempo de colheita da safra de verão, o Rio Grande do Sul pode se beneficiar do dólar valorizado na hora de vender seu principal produto agrícola a partir de março, a soja. Por ser commodity com demanda garantida fora do país, o grão é um dos produtos mais sensíveis à oscilação do câmbio.
Outros alimentos feitos no Estado, como carnes e arroz, também podem ganhar competitividade no Exterior, ainda que em menor proporção frente à oleaginosa. Por outro lado, o dólar alto influencia os custos da atividade rural, já que os insumos utilizados no campo costumam ser importados.
– Estamos em uma fase em que o dólar alto favorece, porque temos mais produto para vender do que insumo para comprar. Mas o ideal sempre é que o câmbio seja estável, que tu consigas formar os custos e fazer a venda com ele – salienta Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Além disso, Luz reforça que produtos que o Estado precisa buscar no Exterior, como o trigo, podem ficar mais caros. Assim, o insumo elevaria os preços de alimentos básicos, como pães, massas e bolachas.
O impacto na Indústria
Na indústria, o câmbio atual tende a trazer efeitos negativos no curto prazo e positivos, a médio, para as fábricas exportadoras, avalia o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), André de Nunes. Em um primeiro momento, as empresas têm de absorver o aumento dos custos em matérias-primas, transporte e até de dívidas em moeda estrangeira. Mas, posteriormente, setores com forte presença internacional, como o automotivo, o coureiro-calçadista e o de alimentos, ganham força na hora de vender para os estrangeiros
– Olhando para o cenário externo hoje, acredito que será um ano de taxa de câmbio mais pressionada em relação a 2019. Teremos eleição nos Estados Unidos e todo o mundo vai ter de calcular as perdas por conta dessa epidemia de coronavírus, o que acaba gerando bastante incerteza – aponta.
Nunes pondera que, apesar de as empresas gaúchas terem melhor margem de negociação no exterior, alguns dos principais parceiros comerciais do Estado se encontram em momentos de instabilidade, o que pode trazer dificuldades para escoar a produção. São os casos da Argentina, que passa por recessão, e da China, afetada pelo coronavírus.
Em viagem ao Exterior, estratégia de compra fracionada
Para o consumidor final, o dólar alto influencia preços de produtos básicos do dia a dia, de artigos eletrônicos e também o turismo. Quem tem viagem marcada frequentemente se pergunta qual é o melhor momento para comprar moeda estrangeira, que na versão turismo já é vendida acima de R$ 4,57 nas casas de câmbio de Porto Alegre. O educador financeiro Adriano Severo enfatiza que o ideal é fracionar a compra do dinheiro até a data da viagem. Assim, é possível minimizar os altos e baixos do câmbio, diz:
– Comprando aos poucos, a pessoa fará um preço médio.
Para quem irá viajar em breve e ainda não adquiriu a moeda, Severo aconselha que faça o câmbio o quanto antes. Afinal, se a transação for postergada e o preço da divisa aumentar, o passeio pode até se tornar inviável e gerar dívidas. Severo recomenda que o turista use dinheiro em espécie ou cartão de viagem pré-pago, evitando compras no cartão de crédito em momento de volatilidade. Isso porque, ao usar o dinheiro de plástico, a cotação, até 1º de março, é fechada na data de vencimento da fatura. Após, será no dia da aquisição.
Presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS), Lucia Bentz diz que a alta do dólar ainda não se reflete nos preços dos pacotes. Mas não descarta que, nas próximas semanas, a continuidade do movimento de valorização do dólar impacte a procura nas agências