SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o recuo do varejo em dezembro, o dólar bateu novo recorde nesta quarta-feira (12), a R$ 4,3520, alta de 0,57%.
O dado fraco do mês de Natal sugere que a retomada do crescimento econômico não engrenou, o que pode levar a novos cortes na Selic por parte do Banco Central como estímulo. Com juros mais baixos, estrangeiros retiram investimentos do país, o que eleva o preço da moeda americana.
Este foi o quinto pregão seguido de alta do dólar. Durante a sessão, a divisa chegou a R$ 4,3540, também nova máxima. O turismo foi a R$ 4,5500.
Em 2020, o dólar acumula alta de 8,4% ante o real, que é a moeda que mais se desvaloriza no período em todo o mundo.
O recorde do dólar, porém, é nominal. Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
Nesta quarta, o IBGE informou que o varejo interrompeu sete meses seguidos positivos e registrou queda de 0,1% em dezembro em relação a novembro. No ano, o comércio cresceu 1,8%.
Vendas no varejo decepcionaram novamente. Em novembro vieram mais fracas do que o previsto mesmo com a Black Friday e em dezembro o Natal não foi tão forte. Assim, os juros futuros caem com aposta que o Copom pode não ter encerrado o ciclo de corte da Selic", diz relatório da Wagner Investimentos.
A queda na taxa básica de juros, hoje na mínima histórica de 4,25% ao ano, contribui para a depreciação do real por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros, pois o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com juros baixos no Brasil, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação da moeda.
O recuo das das vendas no mês de Natal veio na contramão da expectativa do mercado, que projetava alta de 0,2% nas vendas do período, segundo economistas consultados pela Bloomberg. Para o ano, eles estimavam alta de 3,3%.
O dado é preocupante, especialmente por casar com a cautela do Copom em continuar com os cortes na Selic, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Nesta semana, o BC divulgou a ata da última reunião do Copom, em que reduziu a Selic para 4,25%. O documento cita que é preciso cautela para observar os efeitos do corte de juros na economia e sinaliza uma pauta nos estímulos monetários. Contudo, com dados econômicos fracos, Gonçalves prevê um novo corte na Selic em maio.
Os dados de atividade econômica continuam abaixo do esperado pelo segundo mês consecutivo, dando fim ao momentum positivo que se construía até outubro. Os fundamentos continuam favoráveis à continuidade da recuperação da atividade econômica, mas esses dados mais recentes colocam dúvida quanto ao ritmo dessa recuperação no curto e médio prazo, diz Felipe Sichel, estrategista do Modalmais.
Já o Goldman Sachs avalia o dado como moderadamente positivo. "No futuro, o setor de varejo deve ser apoiado pelo ambiente de inflação baixa, crescimento do emprego, fluxos de crédito firmes e taxas de empréstimo em declínio, mas uma folga ainda significativa no mercado de trabalho e a confiança reduzida do consumidor podem limitar a animação do consumo privado e das vendas no varejo".
Segundo Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, além de dados fracos da economia brasileira, o real também se deprecia por empresas nacionais estarem trocando dívidas externas, em dólar, por domésticas, em razão do juros mais baixos. Neste movimento, a moeda americana é enviada em grandes quantidades para o exterior, o que diminui sua disponibilidade e, consequentemente, eleva a cotação.
Não temos como ter juro baixo e câmbio baixo. Enquanto não tivermos razão para entrada de dólares no país, o dólar não volta para R$ 4, diz Rocha.
Com a possibilidade de juros mais baixos, que leva investidores para a renda variável, a Bolsa brasileira fechou em alta de 1,13%, a 116.674 pontos, maior patamar desde 24 de janeiro. Com vencimento de opções, o giro financeiro ficou bem acima da média, em R$ 74,601 bilhões.
O Ibovespa também foi impulsionado pelo exterior favorável e alta nos preços de matérias-primas. Dow Jones e Nasdaq subiram 0,94% e 1,00%, respectivamente, e S&P, 0,65%, a níveis recordes. No pregão, o risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos caiu 1,8% e foi para 97 pontos, menor patamar desde 29 de janeiro.
O barril de petróleo Brent subiu 4,2% na sessão e foi a US$ 56 levando as preferenciais ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras a subirem 2,2%, a R$ 30,13. As ordinárias (com direito a voto) tiveram alta de 1,7%, a R$ 32,55.
O minério de ferro subiu 2,2% e as ações da Vale, 2%, a R$ 53,07.
Segundo analistas, investidores se mostram menos preocupados com o
coronavírus, enquanto a contaminação e mortalidade da doença desaceleram.
Investidores também receberam de bom grado o anúncio de Xi Jinping, presidente da China, de que o país irá atingir suas metas de crescimento. O impacto econômico do vírus ainda não é quantificável e altamente incerto, porém dado a expectativa de que terá vida curta, deve ter seu impacto limitado, diz relatório da Guide Investimentos.
Apesar da melhora no cenário, a Bolsa brasileira ainda registra déficit de investimento estrangeiro. Até sexta (7), estrangeiros retiraram R$ 24,7 bilhões do mercado de ações local.