O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Foco de tensões no governo Jair Bolsonaro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou mais um capítulo de seu processo de enxugamento. Trata-se da venda bilionária de ações que a instituição detinha da Petrobras. Em nota, a petroleira informou que o negócio movimentou R$ 22 bilhões. A venda engloba ações ordinárias (com direito a voto em assembleias).
O processo de redução do tamanho do BNDES encontra simpatia no mercado financeiro. Especialista no setor bancário, o economista João Augusto Salles avalia que a venda dos papéis é um passo para deixar a instituição financeira "menos exposta ao mercado de ações".
— O rumo do BNDES é mais liberal hoje. A ideia é o governo pelo menos se desfazer de grandes participações em empresas. O próximo capítulo deve ser a venda de ações da JBS — aponta.
Apesar dos elogios de analistas do mercado financeiro, as decisões do governo em relação ao banco também despertam questionamentos entre economistas de diferentes linhas. Historicamente, o BNDES é visto como fonte de financiamentos de projetos de longo prazo em setores como o de infraestrutura.
A área, aliás, é alvo de promessas de concessões do governo nos próximos meses. Em entrevista à coluna nesta semana, o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirmou que a queda de 1,1% na produção das fábricas brasileiras, em 2019, pode refletir dificuldades de acesso a crédito.
— Estamos passando por mudança no país, com encolhimento do BNDES. Mas, ao que tudo indica, fontes alternativas de financiamento não foram suficientes para dar conta da situação — observou Cagnin.