Embora janeiro tenha sido marcado mais por fatores externos do que internos na economia, o resultado das primeiras semanas de 2020 é a consolidação de Paulo Guedes como o único superministro de fato. A disputa por protagonismo entre o presidente da República e o ministro da Justiça, Sergio Moro, foi escancarada no episódio do debate público sobre a criação da pasta de Segurança Pública. São tantas as frituras públicas acumuladas em poucos dias que uma reforma ministerial passou a ser quase uma imposição, não uma escolha para um governo que precisa recuperar a imagem dentro e fora do país.
Embora a Casa Civil do governo Bolsonaro nunca tenha sido exatamente um superministério, a pasta é, por definição. A transferência do Programa de Parceiras em Investimentos (PPI) para a Economia foi a pá de cal pública e eloquente sobre quem tem poder na Esplanada. As críticas internas e externas à lentidão do processo de concessões e privatizações "nativo" do governo Bolsonaro – avançou o que estava desenhado no período Temer – ajudaram no processo.
Se era difícil de entender para os brasileiros, imagine explicar aos cobiçados investidores estrangeiros que uma fatia das vendas estava sob controle de Guedes, mas outra não. Em entrevista à coluna, o secretário especial de Desestatização e Desinvestimento, Salim Mattar, deixou claro seu desconforto com a divisão de tarefas. Apesar de ressalvar que Onyx estava tentando acelerar, afirmou que "no PPI, os estudos deveriam ser feitos em prazo mais curto".
A fila das frituras públicas de janeiro foi aberta com o Ministério do Meio Ambiente, que perdeu a gestão ambiental mais crítica para as Forças Armadas, com a criação do Conselho da Amazônia e a Força Nacional Ambiental. Há, ainda, um caso único de autocombustão, o do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Não bastasse o constrangimento público a que ele mesmo se expôs, com vídeos fora de tom e abundantes erros gramaticais, a má gestão dos problemas do Enem fez com que um aliado crucial do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) o considerasse "um problema para o país".
E ainda há espaço para revisão no comando de grandes estruturas, caso do BNDES, cujo presidente foi chamado de "garoto" por Bolsonaro depois de gastar R$ 48 milhões em uma auditoria sem resultados. Se janeiro foi movimentado até este último dia útil, esperemos por fevereiro.