Na primeira quinzena de dezembro, um empreendimento de sucesso de Porto Alegre ganha a segunda unidade, que vai testar o potencial da marca para formar uma rede. A Leiteria 639, hoje uma só casa nesse número da Avenida Venâncio Aires, passará a funcionar também na Rua 24 de Outubro, onde existia outro negócio de Tiago Leite, o Rosário Resto Lounge Pub. Tiago diz ter trocado a operação do local porque esse negócio também foi afetado pela tecnologia:
— Há cinco anos, não havia aplicativos de paquera, as casas noturnas existiam para as pessoas se conhecerem. A nova geração, que dita a regra da noite, entre 22 e 24 anos, quer usar e não quer mais gastar. Cobrar ingresso, que viabiliza o sustento, é praticamente impossível. O modelo de negócio do Rosário Resto Lounge, que abre seis dias na semana, está ficando obsoleto. Vão sobreviver festas que abrem uma vez na semana ou no mês.
A Leiteria, que combina restaurante de pratos mais elaborados, cafeteria e mercearia, com grande área para pets e ambiente entre o rústico e o descolado, tem recebido propostas para abrir franquias. Tiago descarta o modelo, por saber o quanto ele e a mulher e sócia, Fernanda Gabriel, sofreram até dar conta da complexidade da operação. Mas diz pensar em rede de lojas próprias:
— Estamos ainda estudando cidades como Novo Hamburgo e Gramado, mas ainda nada concreto.
É bom não duvidar da capacidade empreendedora — raiz, não nutella — de Tiago. E é melhor que ele conte a trajetória:
— Cheguei com 14 anos a Porto Alegre e fui trabalhar em um minimercado, com meu cunhado, como faxineiro. Quando um confeiteiro decidiu se aposentar, ele perguntou se eu encarava. Disse que, se ele pagasse um curso, topava. Ele pagou. Depois, ele quis botar um açougue no mercadinho, fiz outro curso. Com 17 anos, surgiu a oportunidade de ser gerente. Aos 19, comprei meu primeiro minimercado. Em 2004, custava R$ 75 mil. Tinha R$ 19 mil, fiquei devendo R$ 56 mil. Paguei em oito meses. Trabalhava das 6h à meia-noite, jantava coelho. Meus pais criavam, no Interior, e mandavam para eu não gastar. Com 23 anos abri outro mercadinho, com 25 iniciei a plantação de eucalipto no interior do Estado, com 28 comprei o Rosário, com 30 comprei o mercado em que comecei como faxineiro. Acabei vendendo os três mercados para funcionários, por não conseguir tocar todos. Eles pagaram com o lucro do negócio.
Depois dessa história, que a coluna só encurtou um pouco, alguns detalhes da nova Leiteria: deve ter a mesma capacidade da original — por enquanto —, o que significa cerca cem empregos no total. Tiago prefere não contar o valor do investimento, só relata que já recuperou há algum tempo, o que aplicou na da Venâncio. E garante que organizará festas itinerantes para a nova geração da balada.