Mesmo fechando pouco acima da mínima do dia, a R$ 4,239, depois de duas intervenções do Banco Central (BC), o dólar ainda teve mais um recorde nominal nesta terça-feira (26). Foi o maior valor da história, embora ainda distante do atingido em 23 de setembro de 2002, na época R$ 3,99. Se fosse atualizado pelas inflações brasileiras e americanas, equivaleria hoje a um valor entre R$ 8 e R$ 10 – a variação depende da fórmula aplicada na correção –, ou seja, mais do que o dobro da cotação atual. Pela manhã, havia chegado a R$ 4,275.
O gatilho da disparada foi uma declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, feita na véspera. Havia afirmado que "é bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo". Segundo Sidnei Nehme, especialista em câmbio, a frase gerou "uma disfuncionalidade, para não dizer uma especulação".
O analista explica que não há uma crise cambial, mas um momento de transição no Brasil, em que o mercado pede que o BC supra o mercado com dólares sem impor operações com mecanismos caros e complicados, como o derivativo chamado swap cambial. Como esse tipo de operação não representa alterações nas reservas cambiais do país, é preferida pelo BC.
– Se o BC mostrar energia, o pessoal cede. O problema é que o BC está tímido, com vergonha de mostrar que está vendendo reservas. Esse recurso existe para isso mesmo, para ser usado quando há necessidade – pondera.
Nehme pondera, ainda, que ao afirmar que o dólar mais alto "por um bom tempo", com juro baixo também por longo prazo, o ministro se equivoca. Caso o dólar permanecer com cotação elevada por muito tempo, vai começar a pressionar preços tão variados quanto o pão e eletroeletrônicos, o que provocaria aumento da inflação. Consequentemente, o BC teria de elevar o juro.