Capa da Economist, bíblia global do liberalismo econômico, tema de editoriais dos jornais The New York Times (EUA) e The Guardian (Reino Unido), o desmatamento no Brasil virou preocupação internacional, agravada nesta sexta-feira (2) pela demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), Ricardo Galvão. A polêmica já havia sido inflada pela ameaça de revisão nos dados publicados pelo órgão feita dias antes pelo presidente Jair Bolsonaro.
A impactante capa da Economist, com uma árvore cortada reproduzindo o mapa do Brasil e o título "Velório para a Amazônia" é a peça com maior potencial de desgaste para o Brasil. Ao contrário de The Guardian e The New York Times, mais identificados com o liberalismo político do que com o econômico, a revista britânica expressa o pensamento da elite econômica mundial, portanto é uma de suas mais fortes referências.
– Declarações de diferentes autoridades aqui têm impacto forte no Exterior – avalia Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp. – Manifestações de ministros e do presidente afetam o que chamamos de "soft power", o poder do Brasil de influir em temas importantes do debate internacional.
Barbosa lembra que o Brasil se tornou um ator importante na discussão internacional sobre ambiente, mudança climática, direitos trabalhistas e direitos humanos. Como a representação externa do país (leia-se seus atuais diplomatas) também mudou de posição, pondera que há risco de o Brasil ficar isolado e perder a importância que teve no passado. Antes que seja chamado de "petista" por advertir sobre as ameaças embutidas na postura do atual governo, o diplomata observa que parte da percepção negativa sobre o país no Exterior é resultado da "campanha liderada pelo PT desde impeachment da Dilma":
– Foi muito eficiente e afetou imagem do Brasil lá fora, com a ideia de que houve golpe, que as instituições não eram respeitadas.
Barbosa lembra que, no acordo firmado entre Mercosul e União Europeia, o Brasil assumiu compromissos ambientais, trabalhistas e democráticos. Esse seria o maior risco imediato de retaliações para o país que não se mostra disposto a garantir a preservação de suas florestas:
– Se o Brasil não cumprir o que está escrito, os países europeus podem não ratificar o acordo. Se, apesar das declarações, cumprir o tratado, perde influência e capacidade de liderança, mas não enfrenta retaliação.