Nascida em Pelotas, Lisiane Lemos cursava Direito e atuava na área de Direitos Humanos, especialmente focada no combate ao racismo e na mediação de conflitos. A partir de um intercâmbio na África, quis mudar de área e percebeu que tinha vocação para vendas. Decidiu que queria trabalhar em uma multinacional e se mudou para São Paulo.
Fez um planejamento para atingir seu objetivo, que concretizou ao entrar no programa
de lideranças da Microsoft. Hoje, é executiva de contas e satisfação do cliente na empresa de Bill Gates e apareceu na lista de 90 brasileiros incluídos no ranking Under 30 da Forbes, comprometida com a diversidade. Nesta quarta-feira (31), palestrou na Gramado Summit, evento focado no desenvolvimento de startups, e depois conversou com a coluna.
Virada na vida
"Eu era pesquisadora em direitos humanos e advogada, minha especialidade era mediação de conflitos. Decidi que queria mudar minha carreira. Fui para São Paulo, a ideia era mais abrangente, trabalhar com vendas em uma multinacional. Depois percebi que há muito potencial para atuar na área de tecnologia. É o que tem a se fazer. Agora não é mais uma questão de ter empresas de tecnologia, mas está havendo uma transformação digital para todas as indústrias. Então, uma das intenções é mostrar que todas as empresas vão se tornar digitais. Como militante, mulher, jovem e negra, percebi que deveria usar as oportunidades que tive para abri-las a outras pessoas."
Motivação
"Na verdade, queria fazer Psicologia. Fui fazer Direito com a ideia de combater o racismo, transformar a sociedade em lugar melhor. Existe uma tendência de as mulheres serem levadas para a área de humanas, não para a de exatas. Agora, minhas primas dizem que vão fazer Direito, eu respondo 'não, vão fazer engenharia da computação'. Mas claro, tem espaço para todos."
Diversidade
"Fundei a Rede de Profissionais Negros, um coletivo para profissionais que se encontrassem no ambiente corporativo pudessem se enxergar. Por ser uma das primeiras mulheres negras na área de tecnologia, e tendo conhecido um executivo negro na primeira entrevista, tinha de fazer essa conexão. Agora, sou líder no Mulheres do Brasil (grupo fundado por empresárias como Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Sonia Hess, ex-Dudalina). Trabalho nessas iniciativas de liderança, faço palestras em universidades. Assim como eu era um talento escondido em Pelotas, existem outros por aí. Com o mercado de tecnologia aquecido, precisamos de mais profissionais nessa área."
A mudança no RS
"Depois de certa demora, o Rio Grande do Sul está se recuperando e se destacando na área da inovação. Há crescimento exponencial na área de coworking, de aceleradoras, inclusive fora de Porto Alegre. São atividades que não precisam ser territoriais. Esse evento (o Gramado Summit, na Serra), é um exemplo de que se pode investir e ser tornar referência nesse segmento."
Exemplo
"Sempre digo que a gente só sonha com o que a gente vê. Se vejo pessoas negras ocupando cargos e posições de destaque, posso sonhar que esse cargo pode ser meu também. Se não vê, é mais difícil sonhar que é realizável. O mercado de tecnologia não é só para pessoas que aprenderam a programar desde cedo. É também para pessoas curiosas e com vontade de fazer parte dessa transformação."