Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aponta que passaram pelos smartphones ano passado 40% do total das operações, como pagamento de contas e transferências. Em 2014, foram só 10%. Para o diretor de Tecnologia e Automação da entidade, Gustavo Fosse, não é prenúncio de que as agências físicas vão acabar.
A que se deve o avanço no uso do mobile bank?
O aumento no valor das transações é ainda mais elevado. Em 2014, foram R$ 4,7 bilhões de transferências via mobile para R$ 31,3 bilhões de transações em 2018. Relaciono isso ao investimento que os bancos fizeram no canal e ao , a conveniência que ele traz no uso para o cliente. Várias transações têm sido feitas. Hoje, ele é um canal sedimentado em todas as faixas etárias. Sobre o aspecto de segurança, não existe mais medo. Quando falamos de segurança no Brasil, vemos que mais de 90% dos problemas são mais por questão social do que qualquer outro fator. A atuação dos bancos está voltada para um outro tipo de ação, independente do canal. Tivemos uma evolução nesse meio. Antigamente, para fazer a digitação de um código de barras em um celular que não era smart, era muito ruim. Hoje pode-se usar a câmera do telefone para fazer isso.
O investimento em tecnologia é para competir com as fintechs?
Os bancos sempre estiveram na vanguarda de investimento em TI e tecnologias de solução. A tecnologia que viabiliza essa cultura (de uso do smartphone) viabiliza as fintechs. No Brasil, os bancos têm bons olhos para as fintechs, porque a parceria com elas tem gerado bons negócios e melhora no atendimento dos clientes também. Estamos vivendo uma relação conjunta, na qual conseguimos levar um serviço com qualidade mais elevada. O mercado brasileiro é muito parecido com o europeu neste sentido, de ver as fintechs como parceiras e oportunidades de bons negócios. Em outros lugares do mundo, elas são vistas como concorrentes, com característica própria de mercado. Não é o caso do Brasil. Para se ter uma ideia, o maior evento dos bancos do Brasil, o Ciab, tem um espaço para as fintechs. É complementariedade.
O blockchain deve começar a ser usado pelos bancos quando?
Hoje temos um grupo na Febraban, com cerca de 10 bancos, que está estudando as tecnologias de blockchain e desenvolvendo cases internos, como teste. E vários bancos estão fazendo isso de forma individual, com laboratório exclusivo para isso. Ainda é uma tecnologia em fase de amadurecimento para o volume transacional do Brasil, pelo tamanho do país e nível de bancarização. Ainda não existe infraestrutura de blockchain que suporte o nosso modelo transacional. O que estamos fazendo, assim como em outras tecnologias, é estudar várias soluções. Hoje, existem cerca de 200 no mercado. Estamos trabalhando com algumas. Há soluções que são boas para um tipo de negócio, mas o que discutimos muito é a estabilidade das soluções. Esse é um problema que o blockchain ainda não resolveu em nível mundial. Ainda não temos nenhuma previsão de colocar em prática alguma dessas soluções.
As agências físicas devem acabar em um futuro próximo?
O que a gente vem observando, e o que os números vêm mostrando, é que há mudança no perfil das agências. Elas estão se tornando menores, isso é visual quando se vai em uma agência, mas o perfil é transacional. As agências dos grandes centros estão deixando de ter um perfil transacional, para um consultivo, para fazer uma operação estruturada, um atendimento mais individualizado, com mais tempo. As dos centros menores ainda têm perfil mais transacional, mas isso está mudando. O que os números e as transações que acontecem em agências e nos outros canais estão mostrando é uma mudança. As pessoas estão indo à agência para fazer uma operação de crédito mais elaborada ou pegar uma consultoria, um planejamento financeiro de médio a longo prazo. Você não vai mais para ir no caixa e tirar um extrato. E como o número de agências segue estável, mesmo com o aumento do uso dos canais digitais e uma mudança no perfil de transações das próprias agências, os números não indicam redução de agências significativamente no futuro. A redução ocorre sempre que tem a aquisição de um banco, e não por estratégia comercial das empresas.