Se já havia desconforto no Congresso para aprovação da reforma da Previdência, a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco complica ainda mais as chances de uma tramitação rápida. Temer não é só um ex-presidente: passou as últimas três décadas acionando os cordões que movem o Congresso. Além disso, Moreira Franco é casado com a sogra de Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerado uma espécie de "primeiro-ministro" da reforma. É quem vem defendendo as mudanças na Previdência com mais empenho, inclusive considerados os integrantes do governo. É esse cenário mais complexo para a mãe de todas as reformas que o mercado vê ao reagir com alta de 1,2% no dólar, para R$ 3,81, e queda de mais de 2% na bolsa de valores.
Mostra de que o temor também ecoa lá fora foi a alta repentina do risco Brasil medido pela cotação do CDS (Credit Default Swaps). Em menos de meia agora, foram de 161 para 165 pontos. CDS são títulos negociados no mercado externo que exprimem, em pontos, a percepção de que o país pode descumprir seus compromissor (dar 'default', no jargão financeiro). Esse indicador estava em queda contínua desde setembro passado, quando havia batido em 219 pontos.
Afinal, não se trata apenas de um ex-integrante da orquestra indo para a prisão, é o maestro da banda. Inquietações sobre a eventualidade de uma delação premiada inquietarão antigos aliados e até adversários que conhecem os meandros a atuação do chamado "grupo de Eduardo Cunha".
– A prisão joga gasolina nas tensões entre a classe política e as forças da Lava-Jato e pode tornar mais complexo o acerto por reformas – avalia André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
Nesse clima de tensão e de preocupação com a própria pele, porque a Lava-Jato voltou a meter medo, depois de uma fase de hibernação, vai sobrar pouco interesse e fôlego para dar prioridade à reforma e, ainda, assumir o risco do desgaste político em meio a uma nova fase de política nacional em chamas.